Folha de S. Paulo


Aluno 'linha de frente' do Passe Livre é porta-voz de invasão em escola de SP

Joel Silva/Folhapress e Ernesto Rodrigues - 18.fev.2015/Folhapress
O estudante Heudes, 18, em ocupação de escola estadual (à esq.) e pulando catraca em ato pelo passe livre
O estudante Heudes, 18, em ocupação de colégio (à esq.) e pulando catraca em ato pelo passe livre

O porta-voz dos estudantes que ocupam a escola estadual Fernão Dias Paes foi também o mais jovem porta-voz do MPL (Movimento Passe Livre) na articulação dos protestos de junho de 2013 contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo.

Trata-se do estudante Heudes Cássio Oliveira, 18, aluno do 3º ano do ensino médio da escola que fica em Pinheiros, bairro da zona oeste de SP.

Afastado do MPL para estudar para o vestibular (prestará direito na USP), Oliveira está desde terça (10) na escola, em protesto contra a reorganização anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) nas escolas da rede estadual.

Um total de 94 unidades deixarão de funcionar para dar lugar a atividades como creche e ensino técnico, segundo o governo estadual. Outras passarão a atender só um de três ciclos de ensino (fundamental 1 e 2 e o médio).

A partir de 2016, a escola Fernão Dias Paes, por exemplo, terá apenas o ensino médio, e alunos do fundamental serão transferidos para outra unidade. Todas essas mudanças motivaram o protesto.

Alunos da escola passaram a noite de terça (10) para quarta (11) na escola e planejavam permanecer no local mais uma noite, até que um representante do governo do Estado falasse com eles.

Apesar de terem eleito Oliveira como porta-voz ("hoje sou eu, amanhã podemos eleger outro", diz ele), os alunos afirmam que não têm um líder, numa organização horizontal que lembra à do próprio Passe Livre. No movimento, Oliveira era uma das "figuras públicas", como são definidos os integrantes que falam com os jornalistas.

Oliveira mora em Embu das Artes (Grande SP) e estuda no colégio desde o 7º ano, em 2010. Tem uma irmã no 2º ano do ensino médio, que também participa dos protestos.

Ele reivindica o diálogo com o governo: "Desde outubro estamos nos mobilizando, mas fomos ignorados. Vamos ficar [na ocupação] quanto tempo for preciso."

Na noite de terça (10), integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) foram para a parte externa da escola, na rua, para apoiar o protesto. Oliveira interveio: agradeceu o apoio, mas pediu que bandeiras fossem retiradas. "A luta é secundarista. É importante que falemos disso, não dos coletivos", disse à Folha.

A reorganização proposta pelo governo é defendida pela supervisora de ensino da escola, Maria Cecilia Mello Sarno. Ela diz que havia classes ociosas no Fernão Dias Paes e não havia demanda na parte de ensino fundamental –213 alunos deste módulo serão transferidos para a escola Godofredo Furtado, a 1,5 km.

De acordo com Sarno, a Fernão Dias tem cerca de 1.600 alunos no ensino médio, que estudam na parte da manhã e da noite, e cerca de 300 no fundamental 2 (do 6º ao 9º ano), cujas aulas são à tarde. Com as mudanças, a escola deve abrir mais turmas do ensino médio no lugar das classes de fundamental.

Heudes Oliveira rebate os argumentos da supervisora de ensino: "Se tem sala disponível, por que não reorganizar salas, com menos alunos por turma? E os irmãos que levam os mais novos para a escola?"

SPRAY DE PIMENTA

Às 9h de quarta, PMs que cercavam a escola jogaram spray de pimenta em alunos que abriram o portão de trás do colégio e em outros que estavam na parte de fora. Novos manifestantes estão impedidos de entrar no prédio e as ruas do entorno estão bloqueadas pela polícia.

A estudante Sandy Rodrigues, 15, aluna do primeiro ano do ensino médio, inalou o gás. "Fiquei sem ar", disse. O manifestante Daniel Cruz, 19, diretor da Upes (união de estudantes secundaristas), foi atingido nos olhos.

A Secretaria da Segurança diz que a PM acompanha o protesto "para resguardar a integridade dos manifestantes e dos demais cidadãos".

Infográfico: Mudanças na educação


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