Folha de S. Paulo


Questão e redação do Enem recebem críticas e elogios nas redes sociais

A prova do Enem, aplicada neste final de semana em todo o país, provocou uma série de manifestações nas redes sociais. A polêmica ficou em torno de uma questão que citou a filósofa francesa feminista Simone de Beauvoir e do tema da redação : "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira".

Polêmica mostra necessidade de debater violência

A citação de Beauvoir estava na prova de sábado (24), que dizia: "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino."

O trecho provocou críticas do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) em sua página no Facebook. "Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto a nossa juventude. O João não nasceu homem e a Maria não nasceu mulher. O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do Enem (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)", afirmou.

O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) também criticou a questão nas redes sociais. "Infelizmente o que é pra ser um momento de jubilo entre toda sociedade, estudantes, seus familiares e os mestres responsáveis pelo futuro de uma geração, mais uma vez se torna instrumento para que alguns infiltrados mostrem suas garras fétidas e invistam sobre a formação intelectual de nossos jovens, tentando incutir em suas puras mente culturas estranhas aos nossos costumes e tradições".

Feliciano falou ainda em questionar o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, "sobre a abordagem do assunto, teoria de gênero, que já deveria estar sepultado e seus assessores teimam em desenterrar esse fétido cadáver".

Neste domingo (25), Mercadante respondeu às críticas e afirmou que "na educação tem que estar aberto a conhecer e refletir".

"Simone de Beauvoir é uma intelectual internacionalmente reconhecida. A grande contribuição literária dela se dá nos anos 1950 e 1960 onde a questão central era a condição da mulher na sociedade e a luta pelo direito de participação das mulheres. É bom lembrar que até 1962 no Brasil a mulher juridicamente era considerada num casamento como relativamente incapaz, sem direitos, e até os anos 1930 era impedida de votar", afirmou.

TEMA DA REDAÇÃO

Na prova deste domingo, a polêmica girou em torno do tema da redação. Enquanto a discussão sobre a violência contra a mulher foi motivo de comemoração dos estudantes e gerou elogio dos professores, nas redes sociais provocou debates entre pessoas contra e a favor, inclusive com a criação da hashtag #Enemfeminista.

A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que já foi ministra dos Direitos Humanos, usou sua página no Facebook e disse que o tema "é pedagogicamente acertado, ao mesmo tempo que relevante na perspectiva humanista".

"A violência contra a mulher não é um fenômeno pontual ou de conhecimento restrito. Todos os dias são divulgados casos reais, histórias de vidas destruídas pela violência, em situações que atingem um grande número de mulheres no Brasil e no mundo", acrescentou.

A presidente Dilma Rousseff (PT) também comentou no Twitter. "A sociedade brasileira precisa combater a violência contra a mulher", disse.

"Estamos numa sociedade onde ainda há muita violência contra a mulher. Apesar de uma série de iniciativas e políticas públicas nos últimos anos, como a Lei Maria da Penha, da lei do feminicídio e das delegacias da mulher, ela está presente em praticamente todos os municípios e os indicadores são muito preocupantes", disse Mercadante.

A PROVA

Neste domingo, os estudantes tiveram que responder questões de linguagem e matemática, além de fazer uma redação. A prova foi considerada bem feita e de elevado grau de dificuldade, por professores de cursinhos.

Ao todo, 7,7 milhões de estudantes se inscreveram para participar do exame, embora tenha tido abstenção de 25,5%, segundo balanço atualizado do Ministério da Educação. O índice é o menor desde 2009, quando o exame começou a ganhar força como meio de seleção para ingresso nas universidades públicas do país.

Além do menor índice de abstenções, o Enem também registrou um número menor de candidatos eliminados neste ano em relação aos dois anos anteriores. Ao todo, 743 participantes foram eliminados por descumprirem as regras nos dois dias do exame —365 no sábado e 378 neste domingo.


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