A Polícia Militar usou bomba de gás lacrimogêneo para dispersar nesta quinta-feira (15), data em que se comemora o Dia do Professor, um grupo de estudantes que protestava em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.
Os manifestantes protestavam contra a proposta da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) de reorganizar os ciclos de ensino. O ato começou às 8h, no Largo da Batata, na zona oeste da cidade, e seguiu por diversas ruas de São Paulo até a sede do governo paulista.
Com faixas e cartazes, os manifestantes interditaram o trânsito em vias como Eusébio Matoso, Brigadeiro Faria Lima, marginal Pinheiros e Morumbi. Os estudantes temem que a medida da gestão Geraldo Alckmin provoque o fechamento de unidades tradicionais, superlotação das salas de aula e transferência de alunos para colégios mais distantes.
Pais, alunos, professores e diferentes movimentos sociais e estudantis participaram do ato, como o movimento Juntos, Anel (Associação Nacional dos Estudantes Livres) e UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas). Segundo os organizadores, cerca de 2.000 pessoas estiveram presentes. A PM não informou a estimativa de público. "Estamos aqui lutando não só pelo nosso futuro como também dos nossos filhos", disse o estudante Julio Cesar Sevério, 17.
Em frente ao Palácio dos Bandeirantes, por volta das 13h, um grupo de manifestantes com máscaras entrou em confronto com os policiais que faziam a segurança em frente à sede paulista, o que dispersou os manifestantes e diminuiu o protesto.
O grupo começou a jogar pedras e pedaços de madeira dentro do palácio. Um carro de luxo que passava em frente ao local também foi alvo das pedras. Durante o tumulto, os policiais usaram bombas para dispersar os manifestantes. Um carro da polícia foi apedrejado e ficou com para-brisa trincado. Apesar da confusão, a PM informou no local que nenhuma pessoa foi detida.
"Eu protesto porque eles não podem precarizar o nosso trabalho. Sobra aluno na sala de aula e eles deveriam aumentar o número de vagas e não fechar escolas", disse a professora de filosofia Nathalia Colli, 23.
Para a dona de casa Elida Araújo. 41, que tem dois filhos na rede estadual, a mudança vai causar transtornos. "Minha filha estuda perto de casa e para onde ela vai? E quem vai levá-la?"
O estudante, Murilo Magalhães, 22, da Anel, acredita que a reestruturação visa fechar escolas para diminuir os custos da administração estadual. "Como o governo estadual não pode criar novos impostos, em tempo de crise econômica eles querem cortar gastos."
Em nota, a Secretaria da Casa Civil informou que "repudia a ação truculenta de vândalos que atacaram a sede do governo paulista" nesta quinta. Segundo a pasta, o grupo depredou equipamentos públicos dos arredores do Palácio dos Bandeirantes, além de "arremessar pedras, rojões e bombas caseiras para o interior do prédio, gerando pânico entre os funcionários e as cerca de 70 crianças de quatro meses a seis anos que ficam na creche".
Ainda segundo o texto, após a dispersão dos manifestantes foram encontrados dois artefatos explosivos, que precisaram ser detonados pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais).
Os manifestantes planejam realizar um novo protesto na próximo terça-feira (20), em frente à sede da Secretaria do Estado da Educação, na praça da República, no centro de São Paulo.
REORDENAÇÃO DOS CICLOS
A meta da Secretaria de Estado da Educação é manter, em cada colégio, apenas um ciclo de ensino –anos iniciais (1º ao 5º) do ensino fundamental ou anos finais (6º ao 9º) do fundamental ou ensino médio. Com isso, alunos serão transferidos.
O processo afetará até mil escolas estaduais e entre 1 milhão e 2 milhões de estudantes. A rede soma 5.108 unidades e 3,8 milhões de alunos. A secretaria da Educação afirma que o aluno que precisar ser transferido irá para um colégio a até 1,5 km do endereço anterior. A pasta diz, ainda, que analisa a situação de 3.600 das 5.108 escolas em todo o Estado. Cerca de mil devem sofrer mudanças.
O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, afirmou na terça (13) que os estudantes das escolas públicas de São Paulo também deveriam protestar quando professores da rede de ensino fizerem greves extensas. Neste ano, docentes fizeram paralisação de 89 dias, a mais longa da história da rede –e que terminou sem que a gestão tucana tenha feito proposta de reajuste salarial.
"É muito interessante o aluno protestar. Quem sabe estejamos criando na educação o protesto para que não falte professor. Para que as greves [de professores] não sejam tão extensas, para que uma greve de 90 dias seja um absurdo numa rede de 4 milhões de estudantes", disse à Folha, por telefone.
Bruno Santos-22.ago.2015/Folhapress | ||
O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista à Folha, em agosto |
OUTROS PROTESTOS
Na última terça (13), dois protestos ocorreram na porta da secretaria da Educação, na praça da República, no centro de São Paulo. O primeiro, pela manhã, reuniu representantes de oito escolas. O outro, à tarde, teve cerca de 200 estudantes da escola Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda (Pirituba).
Pais e estudantes da unidade disseram que a direção avisou que ela será fechada. "Qual a logística desse plano de fechamento? Quem levará nossos filhos para as escolas? Não há comunicação, não sei o que vai acontecer", diz o autônomo Carlos Couto, 36, pai de dois alunos.
Na semana passada, também houve manifestações. Em uma delas, no centro da cidade, duas pessoas foram detidas pela polícia. Alunos e funcionários da escola Padre Saboia de Medeiros, por exemplo, participaram do ato.
"Nossa diretora foi avisada que a escola será fechada", afirmou um servidor, que não quis se identificar. Segundo a secretaria, no entanto, a escola não está na lista de 3.600 que estão sendo analisadas para a mudança. Outros protestos ocorreram em frente a diretorias regionais de ensino, nas zonas leste e sul.
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DÚVIDAS SOBRE REFORMA DA REDE
1 - O que mudará na rede em 2016? O governo decidiu dividir os colégios por ciclos de ensino. O objetivo é que a maioria das unidades ofereça classes de apenas um dos três ciclos -anos iniciais do fundamental (1º ao 5º), anos finais (6º ao 9º) e ensino médio.
2 - Quantos alunos serão afetados? Segundo o governo, o plano vai afetar até mil escolas e entre 1 milhão e 2 milhões de alunos -a rede tem 5.108 escolas e 3,8 milhões de estudantes.
3 - Alguma escola será fechada? O governo admite que sim, mas afirma que os espaços continuarão sendo usados para educação, com creches ou escolas técnicas, por exemplo.
4 - Por que essa mudança? O governo afirma que as escolas têm vagas ociosas, já que perderam quase 2 milhões de alunos nos últimos 14 anos. A divisão favoreceria "a gestão das unidades e a adoção de estratégias pedagógicas focadas na fase de aprendizado dos alunos".
5 - Já estão definidas as escolas que serão alteradas? Segundo a secretaria, não. Até dia 23, os 91 dirigentes de ensino do Estado terão que apresentar sugestões.
6 - Quando o aluno saberá se foi transferido? No dia 14 de novembro, por meio de reuniões nas escolas.
7 - Em caso de mudança, o aluno poderá escolher a nova escola? Em dezembro, a secretaria abrirá um período de transferência "por preferência".
Inicialmente, os alunos precisam alterar seus dados em www.atualizeseusdados.educacao.sp.gov.br para que sejam rematriculados na escola mais próxima de casa.
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