Folha de S. Paulo


Estudante deveria ir às ruas contra greve, diz secretário de Alckmin

Bruno Santos-22.ago.2015/Folhapress
O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista à *Folha*, em agosto
O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista à Folha, em agosto

O secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, afirmou que os estudantes das escolas públicas de São Paulo também deveriam protestar quando professores da rede de ensino fizerem greves extensas.

"É muito interessante o aluno protestar. Quem sabe estejamos criando na educação o protesto para que não falte professor. Para que as greves [de professores] não sejam tão extensas, para que uma greve de 90 dias seja um absurdo numa rede de 4 milhões de estudantes", disse à Folha, por telefone, nesta terça (13).

"Quem sabe esse movimento seja positivo, não tenho nada contra esse movimento." Neste ano, docentes fizeram paralisação de 89 dias, a mais longa da história da rede –e que terminou sem que a gestão tucana tenha feito proposta de reajuste salarial.

Mudanças na educação

O secretário da gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a lista de escolas que terão mudanças nos ciclos de ensino –a partir de 2016– ainda não está fechada. A reorganização pode fechar colégios e fazer com que alunos tenham de ser transferidos.

O objetivo da mudança é que a maioria das unidades ofereça classes de apenas um dos três ciclos do ensino básico –anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do ensino fundamental e ensino médio. Hoje, um terço das escolas estaduais funciona assim. Com a medida, uma região com três escolas terá uma unidade para cada etapa.

Dessa forma, muitos alunos terão que mudar para escolas que atendam apenas aos seus ciclos. Outras unidades serão fechadas -vão abrigar cursos técnicos ou virar creches.

Segundo ele, 91 dirigentes de ensino de todas as regiões do Estado estão apresentando propostas à secretaria, que ainda vai analisá-las. A pasta, afirma, está seguindo um cronograma. Voorwald diz que, enquanto a secretaria não divulgar quais colégios terão mudanças, o que vai ocorrer após o dia 23 –prazo para as diretorias de ensino apresentarem sugestões, "tudo é boataria".

"Só quero tranquilizar os pais e os alunos: deixem a secretaria se manifestar. Tudo o que vocês ouvirem não tem fundamento. Não deem ouvidos a boatos", afirmou. Os alunos ficarão sabendo se precisarão mudar no dia 14 de novembro, em reuniões nas próprias escolas.

O secretário disse que a reorganização dos ciclos visa "uma escola melhor". "Uma escola de três ciclos, em que criança de sete anos convive com adolescentes [do ensino médio], não é uma boa escola, sob a ótica da educação. As ações pedagógicas têm que ser focadas para cada ciclo", argumenta Voorwald.

-

DÚVIDAS SOBRE REFORMA DA REDE

1 - O que mudará na rede em 2016? O governo decidiu dividir os colégios por ciclos de ensino. O objetivo é que a maioria das unidades ofereça classes de apenas um dos três ciclos -anos iniciais do fundamental (1º ao 5º), anos finais (6º ao 9º) e ensino médio.

2 - Quantos alunos serão afetados? Segundo o governo, o plano vai afetar até mil escolas e entre 1 milhão e 2 milhões de alunos -a rede tem 5.108 escolas e 3,8 milhões de estudantes.

3 - Alguma escola será fechada? O governo admite que sim, mas afirma que os espaços continuarão sendo usados para educação, com creches ou escolas técnicas, por exemplo.

4 - Por que essa mudança? O governo afirma que as escolas têm vagas ociosas, já que perderam quase 2 milhões de alunos nos últimos 14 anos. A divisão favoreceria "a gestão das unidades e a adoção de estratégias pedagógicas focadas na fase de aprendizado dos alunos".

5 - Já estão definidas as escolas que serão alteradas? Segundo a secretaria, não. Até dia 23, os 91 dirigentes de ensino do Estado terão que apresentar sugestões.

6 - Quando o aluno saberá se foi transferido? No dia 14 de novembro, por meio de reuniões nas escolas.

7 - Em caso de mudança, o aluno poderá escolher a nova escola? Em dezembro, a secretaria abrirá um período de transferência "por preferência".
Inicialmente, os alunos precisam alterar seus dados em www.atualizeseusdados.educacao.sp.gov.br para que sejam rematriculados na escola mais próxima de casa.

-

PROTESTO DE ALUNOS

Vinte dias depois do anúncio, diretores e a secretaria da Educação ainda discutem quantos e quais colégios vão sofrer as mudanças. A discussão criou uma rede de boatos e preocupação que fez multiplicar os protestos de alunos e pais contra a medida. O novo plano vai atingir cerca de 1 milhão de alunos no Estado.

Os atos são organizados pela Umes (união dos estudantes secundaristas) e pela Apeoesp, sindicato dos professores. A entidade dos docentes, crítica à medida, cedeu ônibus, cartazes e faixas de protesto aos alunos.

"Eles têm nosso apoio direto. Como vão fazer faixas? Panfletos? Eles não têm como fazer. Estamos juntos, pais, alunos e professores", diz Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp.

A secretaria da Educação afirma que o aluno que precisar ser transferido irá para um colégio a até 1,5 km do endereço anterior. A pasta diz, ainda, que analisa a situação de 3.600 das 5.108 escolas em todo o Estado. Cerca de mil devem sofrer mudanças.

Nesta terça-feira (13), dois protestos ocorreram na porta da secretaria da Educação, na praça da República, no centro de São Paulo. O primeiro, pela manhã, reuniu representantes de oito escolas. O outro, à tarde, teve cerca de 200 estudantes da escola Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda (Pirituba).

Pais e estudantes da unidade disseram que a direção avisou que ela será fechada. "Qual a logística desse plano de fechamento? Quem levará nossos filhos para as escolas? Não há comunicação, não sei o que vai acontecer", diz o autônomo Carlos Couto, 36, pai de dois alunos.

Na semana passada, também houve manifestações. Em uma delas, no centro da cidade, duas pessoas foram detidas pela polícia. Alunos e funcionários da escola Padre Saboia de Medeiros, por exemplo, participaram do ato.

"Nossa diretora foi avisada que a escola será fechada", afirmou um servidor, que não quis se identificar. Segundo a secretaria, no entanto, a escola não está na lista de 3.600 que estão sendo analisadas para a mudança. Outros protestos ocorreram em frente a diretorias regionais de ensino, nas zonas leste e sul.


Endereço da página:

Links no texto: