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Steve Jobs não seria contratado por nenhuma empresa, diz recrutadora

O jovem que deseja construir uma carreira de sucesso precisa ter, além do diploma universitário, maturidade emocional para lidar com as exigências do trabalho, diz Irene Azevedo, 64, diretora da empresa de recrutamento Lee Hecht Harrisson.

Para ela, a falta de paciência e a necessidade de feedback constante da geração atual não condizem com o perfil esperado pelas empresas e pode criar frustrações entre os profissionais.

Azevedo conta que os processos seletivos são cada vez mais requintados, até mesmo para vagas de estágio. "O Steve Jobs [1955-2011] não entraria nas organizações atuais porque nem faculdade ele tinha. Esse é o mundo onde vivemos, com exigências altas."

Leia abaixo a entrevista concedida à Folha.

Paulo Troya/Folhapress
Irene Azevedo, 64, diretora da empresa de recrutamento Lee Hecht Harrisson
Irene Azevedo, 64, diretora da empresa de recrutamento Lee Hecht Harrisson

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Folha- O que o mercado exige do jovem profissional, independentemente de área?
Irene Azevedo - As características cobradas do jovem não são diferentes daquelas exigidas para quem já está no mercado: flexibilidade e adaptabilidade. As organizações estão se transformando rapidamente, e os profissionais, de qualquer área, precisam ter a capacidade de se adaptar ao novo cenário.

Qual característica desejada pelas empresas é mais rara entre os jovens?
A capacidade de ser resiliente. Ser proativo, capaz de se comunicar já se tornou o básico. São as características comportamentais que vão fazer a diferença.
Esta é uma geração com uma mentalidade que, se não deu certo, é fim de jogo. É preciso exercitar um pouco mais a capacidade de ser resiliente, de envergar, mas não quebrar. É importante ser mais persistente nas suas ideias e, principalmente, não se abater quando ouvir um 'não'. O 'não' é só uma resposta, não é o fim do mundo.
A intempestividade e a falta de paciência também atrapalham. O jovem precisa entender que a carreira não se constrói em posições ocupadas, mas em habilidades adquiridas. Para você chegar a cargo de gerência, é preciso ter experiência que só se adquire com o tempo. A carreira é feita desta sedimentação.

E como conseguir essas qualidades?
Uma boa faculdade é um cartão de visitas. E o cartão de visitas, sozinho, não adianta. Um conselho que me ajudou muito é autoconhecimento. Quando você se conhece, entende as suas fortalezas e as áreas em que tem que melhorar, consegue gerenciar sua experiência nas empresas de maneira mais adequada às expectativas dos dois lados.

Já dentro da empresa, o que o jovem pode fazer para se sentir mais confortável?
Essa geração gosta muito de feedback, e nem sempre vai encontrar isso da maneira como gostaria. Se a pessoa tem necessidade de receber avaliações, sugiro que escolha alguém, seja de dentro ou de fora da organização, que esteja numa posição acima para ser um mentor.

Há muita diferença entre as expectativas das empresas e dos jovens?
O Steve Jobs [1955-2011] não entraria nas organizações atuais porque nem faculdade ele tinha. Esse é o mundo onde vivemos, com exigências altas. Além de alguma formação técnica, o mercado exige certa maturidade emocional daqueles que entram, até dos estagiários, para lidar com as exigências do dia a dia do trabalho.
Então, muitas vezes, as organizações fazem processos seletivos requintados, dificílimos, complicadíssimos para vagas de estágio. Isso cria uma expectativa no jovem sobre as funções que assumirá e o deixa frustrado ao se dar conta de que terá trabalhos menores, como fazer planilhas e documentos.

Com relação às exigências de currículo, quais são essenciais hoje em dia?
Muitas organizações exigem inglês até mesmo para cargos onde não se usa o idioma. Habilidade de trabalhar com ferramentas básicas do computador, como planilhas, é muito importante num início de carreira.


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