Folha de S. Paulo


Vale ouvir aluno antes de mudar de escola, mas a palavra final é dos pais

Quando Alexandra Catta Preta, 13, pediu para mudar de colégio, no ano passado, sua mãe, Suzana, 52, não pensou duas vezes: "Queríamos uma escola que exigisse mais dela". No começo de 2015, matricularam a filha no Colégio Bandeirantes.

Nem sempre o processo é tão fácil –e se os pais querem a mudança, mas o aluno rejeita a nova escola? Quando o filho pede para sair, vale acatar? Não existe regra sobre o peso da vontade do filho na decisão, segundo especialistas, mas é consenso que a opinião do aluno deve ser limitada até o 6° ano.

"Ele deve ajudar, mas não pode interferir muito, porque não entende o que essa mudança significa", explica Roseli Caldas, coordenadora da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.

Segundo ela, quando a criança é muito nova é preciso estar atento a sinais, como chorar antes de ir para a aula. O ideal é que o perfil da escola se adapte ao do aluno. Jovens introvertidos podem ter dificuldade em escolas grandes, por exemplo.

"Às vezes a instituição é ideal para a família e não para a criança", diz Gabriela Mieto, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.

PEDE PRA SAIR

A partir do 6° ano, o aluno começa a opinar de forma mais ativa, e muitas vezes é ele quem pede a mudança. Apesar disso, a palavra final ainda deve ser dos pais, afirma Evely Boruchovitch, do departamento de Psicologia Educacional da Unicamp.

No caso de Alexandra, ela teve de esperar um ano para ter o desejo atendido. Na primeira vez que pediu, em 2013, os pais disseram não porque queriam que ela melhorasse a compreensão de texto antes.

"Não há escola perfeita, cada uma tem qualidades e valores, que devem estar em consonância com o que os pais pensam", diz Boruchovitch.

Para Roseli Caldas, deve haver um motivo forte para a mudança. "Se ele está indo mal ou houve briga com colegas, é preciso analisar. Às vezes, optar por sair significa não aceitar um desafio."

Mas ela reconhece que situações graves podem levar a um desgaste desnecessário.

"Há crianças que realmente sofrem muita pressão, por características físicas ou preconceito. É preciso ver até que ponto vale ajudá-la a enfrentar isso", afirma Caldas.

Se as notas são baixas, é preciso pensar se a família não está criando expectativas excessivas. "Muitos acham que o filho está desinteressado, quando na verdade ele apenas não está acompanhando", diz a psicopedagoga Neide Noffs, da PUC-SP.

A principal recomendação, independentemente da idade, é acompanhar de perto o dia a dia do aluno e manter o diálogo constante. "Conhecendo seu filho, você perceberá quando surgirem problemas", explica Caldas.

Quando não há acordo, resta aos pais convencer o filho. Uma estratégia é esperar mudanças de grau, como do fundamental para o médio. "Evite rupturas bruscas. Também é bom prepará-lo com alguns meses de antecedência", afirma Noffs.

"Toda escolha tem pontos positivos e negativos, é tudo uma questão de alinhamento de expectativas", completa Boruchovitch.


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