Folha de S. Paulo


análise

Não há problema nenhum em trocar de escola

Os mais novos são frágeis, muito frágeis! Qualquer pequena mudança na vida deles pode ser catastrófica. Para aprender, precisam seguir por um caminho planejado, sem curvas acentuadas em que precisem frear ou calcular a velocidade para seguir em frente e chegar ao final.

Como resultado dessa forma de pensar, nunca é fácil, para crianças e adolescentes, mudar de escola. Eles precisam que isso ocorra no momento certo, para que consigam superar as pequenas (ou enormes) adversidades que tal mudança provoca. Como a de se despedir de colegas e fazer novos. Ou a de se adaptar a outro estilo de ensino.

Os mais novos são frágeis, têm poucos recursos pessoais para resolver seus problemas, e qualquer mudança no caminho pode tornar sua trajetória um calvário. Aos nossos olhos, são tão pouco resistentes que precisam viver em um mundo perfeito, ou quase.

É essa a conclusão a que chegamos frente ao enorme número de regras que criamos para beneficiar sua vida escolar. Vejamos exemplos.

É melhor matricular o filho de três anos em uma escola de bons resultados nos exames ao final do ensino médio, mesmo que fique longe de casa e exija que a criança passe muito tempo em veículos. Mesmo que nem ofereça tempo para brincar. É que, desse modo, a criança não terá de enfrentar mudança de escola mais para a frente.

É melhor manter o filho na escola em que está, mesmo que esta tenha perdido a confiança dos pais, ou mesmo que o filho enfrente problemas, porque mudança no meio de um ciclo ou de uma série vai prejudicar seu desenvolvimento escolar.

Lamento desapontá-lo, caro leitor, mas não é assim. Discordo de tudo que foi dito até aqui. Por que inventamos tantas regras para o que faz parte da vida, como mudanças inesperadas? Porque não confiamos no potencial dos mais novos para enfrentar a vida. É ou não é?

Qual o melhor momento para mudar o filho de escola? Quando a família precisar ou desejar, quando o filho apresentar sinais de que algo não lhe faz bem etc. Isso pode ocorrer no meio do ciclo, do ano, do semestre... Tanto faz.

O filho terá de se esforçar para se adaptar, estudar conteúdos que nunca viu, fazer novos colegas, entender a gramática do funcionamento da nova escola? Sim, e muito. Mas isso é ótimo para ele, permite grande aprendizado.

Vamos deixar de melindres com os mais novos? É confiando no potencial deles que eles melhoram a autoimagem e ganham segurança.

Eles podem errar, enfrentar dificuldades, reclamar, sofrer? Podem. Normal. Anormal é acreditar que não serão capazes de superar as questões que a vida apresenta.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e colunista da Folha


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