Folha de S. Paulo


Pernambuco sobe no índice de ensino depois de implantar metas e bônus

Definição de metas, indicadores de desempenho, bônus por resultados. O vocabulário do mundo corporativo passou a fazer parte do dia a dia do ensino público estadual de Pernambuco, que aposta no modelo empresarial para tentar melhorar a qualidade da educação.

Aliado à expansão das chamadas escolas de referência –com ensino em tempo integral–, esse modelo de "gestão por resultados" permitiu que o Estado tivesse o maior crescimento do país no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Entre 2005 e 2013 o Estado passou da 18ª para a 4ª posição -a nota subiu de 2,7 para 3,6. O Ideb considera as notas dos alunos em provas de português e matemática e a taxa de aprovação.

Em 2011, o governo estadual passou a avaliar suas escolas com base em indicadores como frequência de alunos e professores, cumprimento de conteúdo, participação dos pais em reuniões e notas. É a partir daquele ano, quando estava em 16º, que se intensifica o salto.

"Os indicadores permitem olhar detalhadamente para cada escola e estabelecer uma linha de ação específica", afirma o secretário de Educação, Fred Amancio.

Assim, é possível saber, por exemplo, se muitos alunos de uma escola vão mal em matemática. Para cada indicador são atribuídas metas que, à medida que são alcançadas, geram bônus.

Essa meritocracia é criticada por alguns especialistas, como Fátima Cruz, do Centro de Educação da UFPE.

Na visão dela, são as instituições com os piores resultados que precisam de incentivos para melhorar. "Além disso, é uma fonte de estresse permanente dos professores, porque é um gerenciamento de controle muito intenso, e a autonomia do professor fica fragilizada", diz.

TEMPO INTEGRAL
Outra medida que ajudou a melhorar as notas dos alunos, segundo o governo, foi a ampliação das escolas de tempo integral, com professores de dedicação exclusiva. Nelas, há aulas complementares de português e matemática, e disciplinas extras, como robótica.

A experiência começou em 2005, com um projeto piloto. Hoje são 300 escolas de referência em todos as cidades.

Para a educadora Cruz, o aumento do tempo é o diferencial, porque os professores se conhecem melhor. O problema, diz ela, é que as escolas integrais, que têm melhores estruturas, recebem mais investimentos do que as regulares, onde as condições de trabalho ainda são precárias.

Para motivar os alunos, o governo criou em 2011 um programa de intercâmbio que seleciona aqueles com melhores notas para um semestre acadêmico no exterior.

Aluno do 2º ano da escola Poeta Mauro Mota, em Jaboatão dos Guararapes, Gustavo Lopes, 16, irá para os EUA. "Quero ser jornalista e o intercâmbio vai ajudar na minha carreira. Desde que começou o programa eu vinha me preparando para isso", disse.

Apesar da melhora no Ideb, profissionais da rede estadual reclamam da falta de investimento na qualificação de professores e da dificuldade para obter licenças para pós-graduação. Também relatam problemas de infraestrutura, como falta de laboratórios e salas sem ventilador.

Na escola de Gustavo, por exemplo, apesar de ser de referência, não há professor formado em física para dar aulas de robótica e o laboratório de informática está desativado.


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