Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Para avançar, país precisa de professor forte e boa gestão

A evolução da educação brasileira tem sido tímida. Fomos bem sucedidos no processo de inclusão e expansão do atendimento das crianças até 14 anos, mas não melhoramos a qualidade do sistema. A evolução tem sido muito lenta.

Estudos mostram que as nações que tiveram sucesso em melhorar a educação fizeram trajetórias semelhantes.

Em todos os casos, da Finlândia à Coreia do Sul, da Polônia ao Canadá, a qualidade da formação de professores, estimulados por carreiras que valorizem seu desempenho, é prioridade. É claro que outros fatores são importantes, mas entre os que podem ser controlados pela gestão, o professor tem o maior impacto.

Além disso, os países também estabeleceram metas de aprendizagem, apoiaram escolas e alunos com desempenho mais fraco e definiram uma base curricular nacional.

O segredo do sucesso parece estar na gestão e no monitoramento das aprendizagens, portanto na implementação das ações essenciais ao bom funcionamento das escolas.

Não existe mágica para assegurar educação de qualidade para todos. Em artigo recente, Naercio Menezes Filho [da USP e do Insper] cita uma pesquisa que avaliou o impacto da gestão sobre o aprendizado dos alunos de ensino médio em sete países, incluindo o Brasil.

Ela mostra que as melhores escolas usam os resultados das avaliações para monitorar o desempenho dos alunos, têm metas definidas e disseminam as melhores praticas entre seus professores, os quais são recompensados com melhores salários.

O Brasil foi capaz de construir um sistema competente de avaliação e estabelecer metas de médio e longo prazo para as escolas e sistemas de ensino. Mas enfrenta dificuldades na implementação das politicas das redes de ensino municipais e estaduais, em geral afetada pela descontinuidade e pulverização de projetos.

O país não avançou na coordenação de ações que podem fortalecer a colaboração entre os três níveis de governo. Tem medo de ousar na mudança dos cursos de formação e na criação de incentivos que valorizem professores dedicados. E resiste a reformar o combalido ensino médio.

Será que adianta ampliar os recursos para a educação, como prevê o Plano Nacional de Educação, sem introduzir mudanças que viabilizem uma gestão mais descentralizada, um currículo bem definido, cobrança de resultados, carreiras docentes menos corporativas e mais autonomia aos diretores de escolas na organização de suas equipes?

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, diretora-executiva da Fundação Seade, foi presidente do Inep


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