Folha de S. Paulo


Modelo para o Brasil, formação do currículo australiano levou 20 anos

Bruno Santos/Folhapress
Barry McGaw, ex-presidente do conselho de administração do currículo australiano, durante seminário
Barry McGaw, ex-presidente do conselho de administração do currículo australiano, durante seminário

A elaboração de um currículo nacional da educação básica é trabalhosa e leva tempo, mas o documento é necessário para nortear toda a política da área.

A avaliação é do professor Barry McGaw, que presidiu o conselho de administração do currículo australiano entre 2009 e 2015.

A experiência é uma referência para o Ministério da Educação brasileiro na elaboração do currículo nacional. Como o Brasil, a Austrália é uma federação, e medidas como essa devem ser acordadas com os Estados.
McGaw foi um dos palestrantes do seminário realizado nesta semana pelo Instituto Unibanco e pela Folha sobre gestão escolar.

Na Austrália, a discussão começou em 1989 e o início da implementação se deu só em 2009. A seguir, McGaw conta como foi esse processo.

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Início
A Austrália é uma federação, como o Brasil, em que há o governo federal, mas os Estados têm grande representatividade. Nosso processo de elaboração do currículo começou em 1989.

Naquele momento, os representantes dos nove sistemas de educação se comprometeram em criar uma estrutura comum. Não era um currículo nacional ainda. O que queríamos era que cada Estado fizesse seu próprio currículo.

Implementação
Nas eleições federais de 2007, tanto a situação quanto a oposição, com algumas diferenças, se comprometeram com o currículo nacional. O Partido Trabalhista [de esquerda] venceu, e foi instruído o conselho nacional para a implementação do documento. Ele se inseriu numa onda de reformas na Austrália que visavam melhorar nosso capital humano.

Papel central
Houve outras reformas ao mesmo tempo na educação, como no treinamento de professores e no financiamento. Mas o currículo é que coordena todas as reformas. Ele mostra claramente o que esperamos que as pessoas aprendam.

O processo
Como começar num país que tem oito currículos [seis Estados e dois territórios]? Não dissemos: vamos colocar tudo na mesa e ver o que tem comum. Dissemos: vamos começar com um papel branco e construir. Colocamos apenas o que buscávamos com o currículo: habilidades para o século 21 e expectativas de aprendizagem. E colocamos isso para discussão pública.

Também montamos pequeno grupo de especialistas para definir o que deveria ser ensinado, da pré-escola ao ensino médio. A ordem era 'escrevam tudo em até 20 páginas. Porque quanto menos confiante você está, mais vai querer falar'. Currículo é sempre controverso. Colocamos professores à esquerda e à direita nas comissões. E funcionou bem.

Inspiração
Brasil deve deve analisar o que precisa colocar no currículo de matemática, ciência etc. Mas é ruim ir direto para a elaboração. São importantes documentos prévios, debates. Para nós isso foi importante, assim como ter uma consulta ampla. Não deve haver pressa, o processo em si é importante.


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