Folha de S. Paulo


A 32 km do centro, escola com pior nota em São Paulo sofre com roubos

Grades amareladas trancam qualquer opção de entrada ou saída, de portas a janelas. A comunicação entre quem está dentro e fora do prédio se dá por um pequeno quadrado no portão, pouco maior que a palma de uma mão. Ao entrar, mais estruturas metálicas separam espaços internos.

A descrição é da entrada principal da Escola Estadual Professor Sergio Murillo Raduan, localizada no Jardim Varginha, extremo sul de São Paulo, a 32 km do centro da cidade.

A estrutura de segurança da escola existe para evitar os assaltos que, segundo os estudantes, acontecem pelo menos uma vez por ano.

Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, a região onde fica a escola registrou ao longo do ano passado 961 casos de roubos e 791 furtos. Um estudo de 2013 da Rede Nossa São Paulo classificou o distrito do Grajaú, onde fica o colégio, como o pior lugar para se viver na capital paulista. Mais da metade da população não tem o ensino fundamental completo; e apenas 7% tem o ensino superior, de acordo com o Datafolha.

Nessa escola, em 2014, 28 computadores foram roubados durante as férias e agora não há nenhuma máquina para os estudantes. Não fez grande diferença: de acordo com os alunos, os computadores nunca tinham sido usados e estavam parados havia dois anos no local, "pegando poeira", porque nenhum deles estava conectado à internet.

Os 40 alunos matriculados na instituição que fizeram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2014 conseguiram, em média, 466,3 pontos no exame, a pior nota da capital paulista, segundo dados divulgados pelo MEC (Ministério da Educação).

Apenas 45,6% dos professores da escola, conhecida também como Varginha II, possui formação adequada, segundo o ministério. A taxa de reprovação é de um a cada cinco alunos, e a de abandono é de 6,5%.

Apesar dos assaltos, professores e alunos afirmam não existir problemas de violência dentro da escola. Para uma professora do ensino médio que não quis se identificar, os resultados do Enem são explicados pelo contexto social da região, uma das mais pobres da cidade.

"Temos alunos com pais presos. Como uma criança dessas vai conseguir estudar?", questiona a professora. "A gente não precisa de mais escolas, como pedem por aí. A gente precisa de mais pais e mães presentes nas escolas que já temos, cuidando, fiscalizando, cobrando a escola e também seus filhos", completa.

Outra funcionária lembra de um aluno que costumava reclamar de dor de dente. "Uma vez abriram a boca dele, e a gengiva estava podre. Assim ninguém tem condição de estudar mesmo."

ESPAÇOS DE LAZER

Catarina Ângelo, 16, foi uma das estudantes que prestaram o Enem no ano passado. Sua nota, diz, foi "por volta de 500". Como estava no primeiro ano do ensino médio, havia estudado apenas uma pequena parte do conteúdo cobrado e fez a prova para ganhar experiência.

Para a estudante do segundo ano, a falta de espaços de lazer na região está relacionada com o desempenho ruim da escola. "Um lugar onde não tem lazer é um lugar onde o adolescente vai se criar frustrado. Ele não tem um meio pelo qual se distrair."

A quadra esportiva da escola fica aberta aos finais de semana e é uma das únicas fontes de diversão da população local, dizem os funcionários.

Todos os dias, o namorado de Catarina, Fernando Alves, 19, busca a secundarista depois do fim das aulas, às 22h50. Ele se formou no mesmo colégio em 2013 e diz não se espantar com o último lugar no ranking. "Nunca foi aquela escola de botar ordem. Mas hoje está mais tranquilo que na minha época."

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que a "unidade conta com o apoio da Polícia Militar para o monitoramento das imediações e mantém diálogo permanente com pais, alunos e comunidade escolar."

Clique na infografia: Desempenho Enem 2014


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