A presença de escolas públicas entre aquelas com as melhores médias do Brasil na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) avançou novamente no ano passado, mas ainda é minoritária.
A elite das escolas públicas é formada por uma maioria de colégios federais, que geralmente têm cursos técnicos ou são ligados a universidades e fazem seleção de alunos.
O desempenho das escolas no Enem 2014 foi divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Ministério da Educação.
Para calcular a média dos colégios, a Folha considerou as quatro provas objetivas do Enem –linguagem, matemática, ciências humanas e da natureza.
Os dados mostram que, entre os 10% dos colégios mais bem colocados no exame do ano passado, 9,4% deles eram públicos.
Em números absolutos, foram 147 instituições que ficaram entre as 1.564 na elite do país. Desse grupo de escolas públicas que ficou no topo, 67% são escolas federais e 31% são estaduais.
A maior parte das escolas estaduais também é formada por escolas técnicas –dentre os cem colégios públicos de São Paulo com as médias mais altas, por exemplo, todos têm curso técnico.
Clique na infografia: Desempenho Enem 2014
No último Enem, eram 7,3% escolas públicas entre as melhores no exame –o primeiro avanço em quatro anos.
Essa participação passou a cair em 2009, quando o Enem foi ampliado e passou a funcionar na prática como vestibular para selecionar calouros das universidades federais.
Apesar do novo avanço, a escola pública com melhor média aparece só na 22ª posição do ranking: o Instituto Federal do Espírito Santo, em Vitória, colégio técnico que seleciona seus alunos.
No último Enem, o público com maior nota –colégio de aplicação da UFV (Universidade Federal de Viçosa-MG)– aparecia na 12ª posição. Nos resultados de 2012, a mesma escola figurava em 7º, mas em 2014 ela aparece em 32º.
O ranking nacional é liderado pelo Objetivo Integrado, colégio particular da capital paulista no topo da avaliação nacional pelo sexto ano consecutivo.
Ao todo, 15.640 escolas compõem o ranking. Só foram divulgadas as notas de instituições com mais de dez alunos no 3º ano do ensino médio e onde mais da metade deles fez a prova.
Especialistas veem com cautela o desempenho de escolas no Enem. Dizem que avanços no ranking não significam melhora das redes de ensino, o que só é obtido com provas que apuram a qualidade da educação, como a Prova Brasil.
Clique na infografia: Desempenho Enem 2014
PERMANÊNCIA
Neste ano o governo ampliou mais uma vez a quantidade de indicadores incluídos na divulgação das médias das escolas.
No ano passado, o Inep (órgão do MEC responsável pelo Enem) já havia divulgado o nível socioeconômico dos colégios, um índice sobre a formação dos professores, e a média dos 30 melhores alunos das instituições.
Agora, também passou a divulgar um "indicador de permanência", que mostra a porcentagem de participantes do Enem, em cada escola, que cursou todo o ensino médio no mesmo estabelecimento.
O presidente do Inep, Chico Soares, diz que o objetivo é destacar "as escolas que realmente ajudam seus alunos a melhorarem, que oferecem educação de qualidade durante todo o ensino médio, e quais são aquelas que, simplesmente, selecionam alguns para cursarem apenas o terceiro ano".
Diretores reclamavam que, nos últimos anos, algumas redes de escolas criaram unidades específicas para abrigar os melhores alunos e, assim, inflar seu desempenho no Enem.
Para o Inep, a divulgação de indicadores junto com as médias do exame ajudam a contextualizar o desempenho de escolas com realidades muito diferentes.
"As escolas são heterogêneas e sendo assim, não podem ser colocadas numa métrica única. É essa a imagem que estamos tentando passar. Estamos dizendo: existem muitos rankings. O que define o desempenho no Enem é um conjunto muito grande de fatores", diz Soares.
PIOR NOTA
A escola com pior desempenho no Enem do ano passado foi a Doutor Augusto Monteiro, colégio estadual que fica na zona rural de Rio Branco, no Acre. Com apenas 15 alunos no último ano do ensino médio –12 fizeram a prova–, a escola tem poucos professores com formação específica na disciplina que lecionam –17% do total.
Segundo o Inep, a formação do corpo docente "está diretamente relacionada ao desempenho escolar". Nos colégios entre os 10% mais bem colocados no exame, a média de formação adequada dos professores é de 69%.
Em São Paulo, a Escola Estadual Professor Sergio Murillo Raduan, no Jardim Varginha, extremo sul da capital paulista, foi a que apresentou o pior desempenho. A escola obteve 466,3 pontos no exame do ano passado. Em 2013, a escola não teve os dados divulgados pelo Inep por não ter atingido os critérios para a divulgação.