Folha de S. Paulo


Lousa digital equipa apenas 2% das classes do país, indica estudo

Parece uma sala de aula comum: um professor fala na frente dos estudantes, que acompanham com anotações. Seria uma aula rotineira, não fosse uma diferença: a lousa é eletrônica –uma raridade no Brasil.

De acordo com um estudo mundial divulgado em maio pela consultoria britânica Future Source, apenas 2% das lousas das escolas brasileiras são digitais. Para se ter uma ideia, em países como EUA e Canadá, metade das salas de aula já conta com essa tecnologia. No Reino Unido, o índice chega a 98%.

Na prática, a lousa digital funciona como uma tablet gigante: com tela sensível ao toque, o professor pode aumentar o conteúdo, dá zoom e destaca pontos importantes com setas desenhadas com os dedos e coloridas do jeito que o docente quiser. Os dedos também servem para escrever algum conteúdo adicional.

O equipamento pode ser conectado à internet –caso das lousas eletrônicas do tradicional colégio Dante Alighieri, em São Paulo. A reportagem assistiu uma aula de geografia na escola que terminou com a exibição de um vídeo do YouTube.

"Nunca mais quero usar giz", diz o protagonista da aula, professor Marcelo Spinola da Silva, 51. Ele conta que usa a ferramenta há quatro anos, depois de uma certa resistência. "Não sabia como explorar os recursos, mas quando comecei não parei mais."

No Dante, o giz foi abolido: todas as 134 salas de aula são equipadas com as lousas digitais. Elas vêm da empresa canadense Smart, líder no setor. E se o giz voltasse? "Eu teria dificuldade, especialmente quando usamos imagens na aula", diz Manuela Correa, 17, aluna do 3º ano do ensino médio no Dante.

Lá, os alunos acompanham o conteúdo das aulas com um tablet individual que recebem da escola –cuja mensalidade gira em torno de R$ 2.500. Alguns fazem anotações no próprio tablet, outros ainda são adeptos do caderno.

No Brasil, a Smart vende, em média, onze lousas eletrônicas por dia e concorre com fábricas nacionais menores como a Hetch Tech. Cada equipamento –nacional ou importado– custa uma média de R$ 5 mil e pode chegar a R$ 10 mil nos modelos mais sofisticados.

Sozinha, a tal lousa do futuro não garante educação de qualidade, dizem especialistas. "Mas a presença da lousa digital planejada tem grandes chances de alcançar resultados que o professor, na ausência do equipamento, teria mais dificuldade de conseguir", diz Marcus Maltempi, professor da Unesp e estudioso de novas tecnologias aplicadas à educação.

Danilo Claro Zanardi, 41, que dá aula de física no Dante, concorda: "ensino o conteúdo de três aulas em uma só porque não perco tempo escrevendo ou desenhando." A Folha acompanhou uma aula dele sobre vetores repleta de animações. Ele preparou o conteúdo no dia anterior, no seu computador, usando power point.

Mas nem todos docentes são assim tão animados com o produto por aqui. Tom Ferrari, diretor para América Latina da Smart, relata resistência do mercado brasileiro.

"Assim como lousa e caderno foram estranhos às escolas em uma época, as tecnologias digitais são atualmente", diz Maltempi, da Unesp.

Outro fator de resistência é o custo das lousas, inacessível para a maioria das instituições de ensino do país. Para conseguir levar o equipamento para as salas de aula de mais de 500 mil alunos –que pagam mensalidade de cerca de R$565–, a Universidade Estácio de Sá, por exemplo, decidiu produzir sua própria lousa.

O resultado foi uma lousa digital simplificada com cara de TV gigante e tela "touch", a teliom, que se tornou a primeira patente depositada pela instituição, em 2014. A universidade estuda agora licenciar a teliom para empresas interessadas em comercializá-la. "No futuro, as aulas serão só assim", diz Lindália Sofia Junqueira, diretora de inovação da Estácio.


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