Estudantes da melhor faculdade de medicina do país têm apresentado uma defasagem na formação básica que pode comprometer seus estudos e seu futuro profissional: a falta de fluência em inglês.
O diagnóstico foi feito pela direção da Faculdade de Medicina da USP, que passou a tomar iniciativas para estimular os alunos a estudarem o idioma, especialmente os termos técnicos da área.
Em julho, a faculdade promoverá a primeira "winter school", ou escola de inverno, um curso de duas semanas ministrado em inglês.
Dos 60 inscritos, dez são brasileiros. O objetivo é que, inseridos em um ambiente internacional, mesmo os alunos que não participam do curso fiquem em contato com colegas estrangeiros. Precisarão falar em inglês e terão dimensão da necessidade de dominar o idioma.
Luiz Carlos Murauskas/Folhapress | ||
Roni Burlina, 21, que tenta superar dificuldade no inglês para fazer intercâmbio nos EUA |
Essa é a expectativa do professor Aluísio Segurado, coordenador da comissão de internacionalização da faculdade. "Ainda há certa inibição, inércia. Como não são cobrados, os alunos não dedicam tempo a isso", diz.
Há dois anos, a faculdade passou a oferecer uma oficina optativa de redação de artigos científicos em inglês.
A USP não permite que sejam oferecidos cursos obrigatórios em inglês na graduação, porque, como o domínio da língua não é requisito no ingresso, não pode ser exigido nessa etapa.
Segurado diz, porém, que o treinamento dos alunos é e será cada vez mais inevitável por dois motivos.
O primeiro é o maior ingresso de alunos vindos do ensino público, facilitado por políticas de inclusão adotadas pela USP nos últimos anos, como a concessão de bônus no vestibular.
Docentes citam estudo da Unicamp que apontou desempenho inferior desses alunos em inglês, ainda que não nas demais disciplinas.
O segundo motivo é a oferta de programas de intercâmbio no exterior, amplificada pelo programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal. Com cada vez mais alunos querendo e podendo estudar fora, maior a necessidade de se dominar a língua inglesa.
Além disso, é fundamental acompanhar a produção contemporânea. "É difícil imaginar que um médico que não leia inglês consiga se manter atualizado", afirma Segurado.
O professor Luiz Fernando Silva diz notar que "muitos alunos ficam boiando" em palestras de estrangeiros.
Ele observa o surgimento de empresas que traduzem textos científicos do português para o inglês. O serviço, se usado indiscriminadamente, impede a autonomia, diz.