Folha de S. Paulo


Separação de irmãos gêmeos nas escolas vira dilema para os pais

Karime Xavier/Folhapress
Luana Bergaro, com os filhos Pedro e Rafaela, 3; ela afirma ter passado pela experiência com sua irmã aos dois anos
Luana Bergaro, com os filhos Pedro e Rafaela, 3; ela afirma ter passado pela experiência com sua irmã

Famílias de gêmeos enfrentam um verdadeiro dilema na hora de matricular os filhos na escola: mantê-los ou não na mesma sala de aula?

O assunto divide educadores, psicólogos e pais. Especialistas dizem que separar pode ser bom para cada criança ter sua individualidade, mas alertam: a "ruptura" não pode ser repentina e forçada.

Mãe de gêmeas, a psicóloga Caroline Gouvea Wallner, 32, discorda da ideia de que elas não devam ficar juntas. Para ela, a separação só deve ocorrer se um gêmeo estiver prejudicando o outro. "Há um preconceito de que um será a sombra do outro", diz.

"As meninas têm seus próprios amigos e também amigos em comum. Só se espelham uma na outra", afirma ela, mãe de Sara e Júlia, 4. Ela diz que sempre conversa com ambas e só vai separá-las se a vontade partir delas.

A psicóloga conta que a decisão foi tomada com base nas experiências em seu consultório. "Tenho pacientes gêmeos adolescentes e adultos que relatam como foi ruim serem separados para atender um pedido da escola."

Pesquisadora do universo gemelar e autora do projeto Vizinhos de Útero, Jemima Pompeu, concorda que os gêmeos só devem ser separados se essa for a opção deles e não por uma imposição da escola. "Os irmãos que são muito unidos e cúmplices vão sofrer com a separação", diz.

A psicopedagoga Elizabeth Monteiro discorda. Para ela, gêmeos devem estudar em salas diferentes para se "individuar". Defende até que os pais os mantenham em períodos diferentes na escola.

"Dessa maneira, teriam um período do dia que seriam filhos únicos, o que é importante na criação da criança."

Os filhos da corretora de imóveis Luciana Cruz, 40, estudaram juntos até o ano passado, mas a escola optou por separá-los neste ano pois Vitória, 5, quer controlar todos os passos do irmão Mateus.

"Os gêmeos têm personalidades diferentes e é importante que façam seus amiguinhos e realizem as atividades escolares sem a interferência do outro", diz Luciana, que aprovou a mudança proposta pelo colégio Albert Sabin.

Ela conta que, quando chegavam da escola, a filha praticamente não deixava o irmão contar como foi o dia. Isso mudou após a separação.

A maioria das escolas consultadas pela Folha opta pela separação, alegando que os alunos precisam ter a sua turma e sua individualidade.

Coordenadora do colégio Santi, na Vila Mariana (zona sul), Elaine Ruiz, diz que o número de alunos gêmeos vem crescendo. "Eles só ficam na mesma sala se os pais forem contra a separação, mas, ao falarmos dos benefícios, a maioria opta em deixá-los em salas distintas", diz.

Na escola bilíngue Stance Dual, na Bela Vista, não há regra específica. "Depende da idade e de como é a relação com o irmão. Conversamos com a família, observamos os alunos e, se possível, separamos", diz a orientadora educacional Luciana Lapa. Ela explica que a tendência é os irmãos começarem juntos e depois terem suas salas.

Foi o que aconteceu com Guilherme e Gustavo, 3. A mãe deles, Andrea Gabrich, 39, cedeu aos pedidos da escola e os separou no segundo ano. "A direção argumentou que um gêmeo normalmente anula o outro e que era importante cada um ter seu espaço e suas amizades."


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