Folha de S. Paulo


Universidades planejam cortes e até cursinho contra crise no Fies

Universidades particulares planejam cortar investimentos, oferecer crédito privado e criar até cursinhos para alunos do ensino médio. Tudo isso para reduzir o impacto das restrições do governo ao Fies (programa federal de financiamento a universitários).

As ações estão sendo tomadas por algumas das 30 instituições de ensino superior que mais receberam alunos com o financiamento entre 2010 e 2014, período de expansão do programa.

A lista das universidades "campeãs do Fies" foi obtida pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

Juntas, as 30 escolas concentraram mais de 500 mil contratos de financiamentos concedidos no período, o que equivale a 27% do total. O país possui cerca de 2.000 instituições de ensino superior.

O grupo das campeãs reúne desde gigantes como a Unip, maior escola do país com mais de 200 mil alunos na graduação, até sete instituições com número de matrículas que giram em torno de 10 mil e não estão entre as 50 maiores privadas.

Muitas das faculdades da lista pertencem a grandes grupos. A Kroton, por exemplo, controla 8 das 30.

Em algumas faculdades, o número de alunos beneficiados pelo Fies em relação ao total de alunos é alto. A Faculdade Pitágoras de São Luís, que tinha 7.463 matriculados em 2013, recebeu, por exemplo, 8.475 estudantes financiados pelo Fies entre 2010 e 2014. Há outros casos parecidos.

NOVAS REGRAS

Uma das mudanças no Fies anunciadas pelo governo foi a exigência de que o candidato tenha ao menos 450 pontos no Enem e não zere a redação (antes não havia critério de nota).

Segundo dados do governo, 30% dos que fizeram o exame federal em 2014 não atingiram o patamar exigido. A mudança significa, portanto, redução no número de calouros elegíveis ao Fies.

Para atenuar o impacto da mudança, há grupos que pretendem oferecer aulas grátis aos alunos do ensino médio próximos aos seus campi.

"O corte pela nota pode condenar uma camada da população jovem ao fracasso", diz o presidente da Laureate, José Roberto Loureiro.

A rede (que tem três faculdades entre as 30 maiores do Fies) pretende criar aulas de reforço para jovens de escolas públicas. No total, 22% dos alunos da Laureate têm financiamento pelo Fies.

A Kroton também anunciou a acionistas a intenção de oferecer conteúdo de reforço online para alunos do ensino médio. Procurado, o grupo -em que 62% dos alunos usam o financiamento- não quis conceder entrevista.

No Fies, a União banca as mensalidades dos alunos, que pagam o financiamento apenas após a formatura (corrigido com juros baixos). Entre as novas regras está também um limite de 6,4% para o reajuste das mensalidades nos contratos do Fies.

O governo diz que as mudanças visam melhorar a qualidade do ensino ao exigir nota mínima e priorizar bons cursos, além de reduzir custos do programa -a União vive momento de corte de gastos.

Em resposta à quase certa queda na receita, algumas escolas dizem que frearão projetos de expansão e melhoria de instalações. São os casos, por exemplo, da Kroton, da Universidade Tiradentes (SE), da Unifor-CE e da URI-RS.

"Estamos reavaliando projetos previstos no orçamento, como ampliação de prédios e instalação de wi-fi nos campi", disse o superintendente da Tiradentes, André Tavares. A universidade estima que perderá de 10% a 15% do número de calouros; 35% dos seus alunos usam o Fies.

Na URI-RS, a criação de cursos será revista. No caso da Unifor-CE, os investimentos já anunciados serão mantidos, mas a instituição freará novos projetos.


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