Alunos do colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais de São Paulo, divulgaram em redes sociais o conteúdo de reuniões sigilosas de professores e orientadores ocorridas entre 2007 e 2012.
As atas vazadas contêm informações pessoais de alunos e ex-alunos. Um estudante do último ano do ensino médio, que teria feito um vídeo ensinando a encontrar os dados, foi suspenso por oito dias nesta quarta-feira (18).
Entre as informações divulgadas estão dados familiares e diagnósticos médicos, sobretudo de doenças mentais. Há também comentários dos professores sobre o comportamento e a fama dos alunos.
"Tem olheiras, boca de ódio, tem cara de criança de filme de suspense", informam anotações sobre um estudante da antiga quinta série (atual sexto ano).
"Aluna perdeu a mãe em junho de 2007. É filha adotiva, mas acho que não sabe disso", diz outra passagem.
Segundo alunos ouvidos pela Folha, era possível, durante o final de semana, acessar as informações digitando nomes no mecanismo de busca do site do colégio.
Ex-alunos também afirmaram que conseguiram acessar o sistema interno do colégio utilizando senhas antigas.
A escola apura se houve invasão ou falha técnica do sistema e estuda mover uma ação contra a família do aluno suspenso.
POLÊMICA
Entre os alunos, a divulgação e a suspensão do estudante têm causado polêmica.
"Ele [aluno suspenso] não foi o primeiro nem o único [que vazou], mas virou o bode expiatório", disse uma estudante do terceiro ano.
Segundo outra aluna, também do último ano do ensino médio, os colegas estão organizando uma manifestação para pedir explicações ao colégio sobre a relevância das informações arquivadas e contra a suspensão do aluno.
"Divulgaram uma informação sobre os professores estarem acompanhando o meu peso, de que eu estaria engordando", afirma. "Eu queria protestar", completa a aluna.
Um terceiro estudante, que teve o diagnóstico de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) vazado, queixou-se de que a escola não havia pedido desculpas. "Foi uma quebra de confiança."
JUSTIÇA
De acordo com o professor de direito civil da USP José Luiz Gavião, tanto famílias quanto o próprio colégio podem acionar a Justiça caso se sintam lesados.
"A princípio, os danos foram causados pelos autores do vazamento, e seus pais são os responsáveis. Se a escola achar que foi vítima, que pode perder credibilidade, poderia entrar com uma ação."
O colégio Bandeirantes fica na Vila Mariana, na zona sul da capital paulista, e teve a quarta melhor avaliação entre as escolas de São Paulo no Enem 2013.
As mensalidades no ensino médio custam cerca de R$ 3.000. A escola tem em sua grade curricular a disciplina de ética e cidadania digital ministrada por uma advogada.
O estudante suspenso não quis se pronunciar.
DIRETORIA
Diretor-presidente do colégio Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar considerou o vazamento "gravíssimo" por "causar prejuízo a alunos, ex-alunos e à própria escola".
O colégio entrará com mandado de segurança pedindo suspensão do vídeo que um estudante fez ensinando a acessar os dados.
A instituição aguarda resultado de investigação para decidir se processará a família do aluno.
"Se houve invasão, aí ele cometeu um crime, e a família será responsável porque ele é menor de idade. Se não houve invasão, ele é responsável do ponto de vista civil pelos danos morais. As alternativas estão abertas. Se serão tomadas, é outra questão", disse.
De acordo com o diretor, as informações sobre os alunos foram tiradas de contexto. Segundo Aguiar, são dados sigilosos informados à equipe docente com autorização dos pais devido à relevância no dia a dia do estudante.
"A escola é vítima. Se houve falha técnica, não foi por querer", disse. "Lamentamos que esse aluno não tenha aprendido nada nos seis anos de curso de ética e cidadania digital que fez no colégio."
A escola tem procurado as famílias dos alunos e ex-alunos envolvidos para prestar esclarecimentos, além de passar em sala pedindo aos estudantes que evitem fazer "bullying" com os colegas.