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Fui contaminada no campus da USP Leste e exijo tratamento, diz aluna

Davi Ribeiro/Folhapress
A aluna da USP Rosangela Fátima Toni, 57, chegou a perder as sobrancelhas pela contaminação
A aluna da USP Rosangela Fátima Toni, 57, chegou a perder as sobrancelhas pela contaminação

Desde 2009, Rosangela Fátima Toni, 57, aluna de Gestão Ambiental da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), a USP Leste, diz sofrer com inúmeros problemas de saúde decorrentes de substâncias presentes no solo da universidade.

Agora, ela pede na Justiça, por meio da Defensoria Pública do Estado, o direito a tratamento médico com especialista custeado pela USP, indenização por danos morais e transferência de curso.

De fato, a presença de contaminantes no solo da EACH já determinou que a faculdade fosse fechada em 2014. Segundo o Ministério Público do Estado, havia risco de explosão do edifício pela alta concentração de gás metano no solo.

Rosangela diz ter perdido o cabelo e as sobrancelhas por contaminação na universidade. Também alega ter sofrido com alergias e crises respiratórias. "Do nada, passei a ter manchas amarronzadas que depois viravam feridas e não cicatrizavam", diz.

Além da contaminação, ela relata ter passado por situações constrangedoras. "Cheguei a usar uma prótese de sobrancelha que caía porque a cola não fixava", afirma. "Hoje, meus filhos pegaram uma pigmentação, mas eu não tenho sobrancelha". Rosangela também sofreu para conseguir um diagnóstico –no Hospital das Clínicas, segundo ela, chegou a ter o diagnóstico de pele seca.

Sem saber o que fazer, a aluna, então, começou a procurar, sozinha, pela causa de seus sintomas. "Durante a greve de 2013, tive informações sobre os contaminantes da EACH", diz. "Em um dos documentos, vi que o ascarel era um deles", conta.

Segundo inquérito do Ministério Público, além do gás metano, o campus universitário da USP Leste foi também contaminado com ascarel, um tipo de isolante térmico usado pela indústria que tem sua instalação proibida desde 1981 no Brasil.

"Foi como se tivesse caído uma bigorna na minha cabeça porque tudo o que ele causa era o que eu estava sentindo", afirmou Rosangela.

Foi aí que ela procurou Paulo Saldiva, professor da USP e patologista especialista em contaminação e poluição, e, por meio dele, conseguiu o diagnóstico. "Ele me recebeu muito bem e me indicou quem poderia me ajudar", diz. "Foi aí que eu tive o diagnóstico de sensibilidade ao ascarel."

TRATAMENTO

A especialista indicada por Saldiva, no entanto, deu o contato de uma médica particular e Rosangela diz não ter condições de pagar. A aluna afirma também que a EACH não prestou nenhuma assistência na sua busca por explicações. "Além de não custearem o tratamento, não me ligaram para perguntar se estava tudo bem depois de eu tê-los procurado", diz.

Procurada, a EACH informa que ofereceu terapia para a aluna no Hospital Universitário da USP, mas que até a presente data, Rosangela não tinha comparecido para o tratamento.

A aluna diz, no entanto, que o Hospital Universitário não é adequado para o tratamento da contaminação. "O Hospital Universitário eu sei que está disponível, como está para todo o aluno da USP, mas nem o Hospital das Clínicas resolveu o meu problema."

Apesar da contaminação, Rosangela continua a frequentar o campus da EACH com medo de perder a vaga na USP. "Não é fácil passar no vestibular, então, eu tomo antialérgico para conseguir ir", diz.

Segundo Rafael Lessa, defensor público responsável pela ação, a liminar de transferência de curso de Rosangela foi indeferida por juiz, mas a defensoria já entrou com recurso.


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