Folha de S. Paulo


'A gente precisa dessa ajuda', afirma primeira bolsista do ProUni

Davi Ribeiro/Folhapress
Solange foi a primeira bolsista do ProUni cuja lei completa dez anos neste mês
Solange foi a primeira bolsista do ProUni cuja lei completa dez anos neste mês

Há dez anos, o cenário para Solange Aparecida Ferreira de Campos, 54, não era animador: com quatro filhos e recursos escassos, ingressar no ensino superior não era uma tarefa fácil.

A vontade, no entanto, coincidiu com a criação do ProUni (Programa Universidade para Todos), programa de concessão de bolsas para alunos de baixa renda, cuja lei completa uma década neste mês.

Em 2005, a estudante carregou o título de primeira bolsista do programa, e foi convidada para evento de sanção no Palácio do Planalto, ao lado do então presidente Lula. Naquele ano, foi contemplada com bolsa integral para cursar gastronomia em uma universidade de São Paulo.

Editoria de arte/Folhapress

"Eu já tinha ido a Brasília participar de algumas manifestações. Foi uma luta muito grande, e uma porta que se abriu. Mas ainda tem muito o que lutar", avalia. Para ela, ainda é baixa a "representatividade" do negro no ensino superior.

Para o frei David Santos, coordenador da ONG Educafro, é preciso ampliar a verba para despesas dos bolsistas com material didático e alimentação, por exemplo.

Hoje, o benefício é destinado a bolsistas integrais (70% do total). Ele também reivindica aproveitamento das bolsas parciais que ficam ociosas, convertendo esse benefício em bolsas integrais.

Durante a graduação, Solange conta ter passado por algumas dificuldades para concluir o curso - não apenas financeiras.

"A gente sabe que existe o racismo, a gente sabe que fazem comentários, e isso incomoda. Eu fui questionada: 'Por que você não paga?'", conta. Ela afirma ter sido a única negra na turma em que estudou. Entre os nove irmãos da família, é a única a ter um diploma do ensino superior. "A gente precisa dessa ajuda", diz.

Ainda durante o curso, foi estagiária de um hotel de grande porte na capital paulista e contratada assim que terminou a graduação. Depois, atuou na cozinha de particulares e no bar aberto por um dos quatro filhos.
Hoje, ela tem como renda a venda de trabalhos de artesanato, que já produzia antes de ingressar na gastronomia. Solange afirma que a intenção agora é abrir um negócio próprio.

"Como preciso de tempo para aprender mais, ir atrás de outros cursos complementares, deixei um pouco de lado o trabalho na área e estou me organizando para montar o meu", afirma. Além do Prouni, ela elogia a lei de cotas, embora defenda que "isso já deveria ter sido feito há muito tempo".

Após a sanção da lei, em 2012, o governo agora discute a criação de "mecanismo de inclusão" de pretos, pardos, indígenas, estudantes com deficiência ou altas habilidades em cursos de mestrado e doutorado.

Em dezembro, o Ministério da Educação criou um grupo de trabalho para discutir o assunto. A previsão é que um documento final seja elaborado até o próximo mês. A definição de cotas na pós-graduação é uma das reivindicações de entidades do setor.

INSCRIÇÕES

Nesta segunda-feira (26), o MEC (Ministério da Educação) abriu as inscrições para bolsas de estudo da primeira edição do ProUni 2015. A inscrição deve ser feita no site do ProUni até as 23h59 do dia 29 de janeiro.

Ao todo, o programa oferece 213.113 bolsas, das quais 63,6% (135.616) são integrais –as demais cobrem 50% das despesas da graduação. O número representa crescimento de 11% em comparação ao processo do primeiro semestre de 2014, quando foram ofertadas 191.625 bolsas.

O ProUni exige nota acima de zero na redação do Enem 2014, além de pontuação mínima de 450 pontos na média das notas. Os estudantes podem acessar o site do programa para ver a distribuição dos benefícios em todo o país


Endereço da página:

Links no texto: