Mesmo com a correria típica do ano de formatura no colégio e as aulas do cursinho pré-vestibular, Larissa Freisleben, 18, não abandonou a prática de balé.
Segundo a jovem de Farroupilha (a 91 km de Porto Alegre), uma entre 250 estudantes que tiraram nota mil na redação do Enem, a dança ajuda na concentração.
Mas o hábito de leitura foi determinante para seu bom desempenho na prova.
"Leio de tudo, de livros mais bobinhos a clássicos e filosofia", conta ela, que prestará vestibular para direito.
Arquivo pessoal | ||
Larissa Freisleben, 18, que tirou nota máxima na redação |
Larissa gostou do tema, sobre publicidade infantil, e diz que já tinha lido textos a respeito. "Gostei mais do que o tema anterior [lei seca]. Consegui ter argumentos para essa proposta", afirma.
Na redação, a estudante citou o exemplo da influência do desenho "Peppa Pig", exibido no Brasil no canal Discovery Kids, porque notou que primos imitavam a personagem e pediam os produtos licenciados de presente.
"O texto apresenta exemplificação, domínio da norma culta, conceitos de várias áreas [resgate histórico] e proposta de solução viável e concreta", analisa Geneviève Faé, 29, professora de redação em um cursinho de Caxias do Sul, cidade vizinha na qual Larissa estuda.
Os 250 candidatos que tiraram a nota máxima na redação fazem parte de um universo de 6,2 milhões de pessoas que fizeram a prova. Outros 530 mil receberam nota zero, a maior parte (53%) por entregar a prova em branco.
Leia abaixo a redação de Larissa Freisleben, que recebeu nota mil no Enem.
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Publicidade Infantil: perigoso artifício
Uma criança imitando os sons emitidos por porcos já foi atitude considerada como falta de educação. No entanto, após a popularização do programa infantil "Peppa Pig", essa passou a ser uma cena comum no Brasil. O desenho animado sobre uma família de porcos falantes não apenas mudou o comportamento dos pequenos como também aumentou o lucro de uma série de marcas que se utilizaram do encantamento infantil para impulsionar a venda de produtos relacionados ao tema. Peppa é apenas mais um exemplo do poder que a publicidade exerce sobre as crianças.
Os nazistas já conheciam os efeitos de uma boa publicidade: são inúmeros os casos de pais delatados pelos próprios filhos –o que mostra a facilidade com que as crianças são influenciadas. Essa vulnerabilidade é maior até os sete anos de idade, quando a personalidade ainda não está formada. Muitas redes de lanchonetes, por exemplo, valem-se disso para persuadir seus jovens clientes: seus produtos vêm acompanhados por brindes e brinquedos. Assim, muitas vezes a criança acaba se alimentando de maneira inadequada na ânsia de ganhar um brinquedo.
A publicidade interfere no julgamento das crianças. No entanto, censurar todas as propagandas não é a solução. É preciso, sim, que haja uma regulamentação para evitar a apelação abusiva –tarefa destinada aos órgãos responsáveis. No caso da alimentação, a questão é especialmente grave, uma vez que pesquisas mostram que os hábitos alimentares mantidos até os dez anos de idade são cruciais para definir o estilo de vida que o indivíduo terá quando adulto. Uma boa solução, nesse caso, seria criar propagandas enaltecendo o consumo de frutas, verduras e legumes. Os próprios programas infantis poderiam contribuir nesse sentido, apresentando personagens com hábitos saudáveis. Assim, os pequenos iriam tentar imitar os bons comportamentos.
Contudo, nenhum controle publicitário ou bom exemplo sob a forma de um desenho animado é suficiente sem a participação ativa da família. É essencial ensinar as crianças a diferenciar bons produtos de meros golpes publicitários. Portanto, em se tratando de propaganda infantil, assim como em tantos outros casos, a educação vinda de casa é a melhor solução.