Folha de S. Paulo


Veja a avaliação das faculdades do país em 2013

De um total de 154 cursos de medicina avaliados pelo Ministério da Educação no ano passado, 27 tiveram desempenho ruim –quase um em cada cinco graduações.

Esse grupo não alcançou nota maior que 2 no CPC (Conceito Preliminar de Curso), indicador de qualidade que considera fatores como infraestrutura, titulação de docentes e, principalmente, desempenho dos alunos no Enade (exame federal).

Cinco dos cursos reprovados estão em universidades federais –de São João Del-Rei (MG), do Pará, do Rio Grande do Sul, de Pelotas (RS) e de Campina Grande (PB).

Com notas de 1 a 5, o CPC foi criado em 2007 e é usado como referência pelo MEC para medidas de corte de vagas e suspensão de vestibular.

No ano passado, o foco foram os cursos da área de saúde, como enfermagem, odontologia e educação física.

As notas dos cursos compõem um índice mais abrangente –o IGC (Índice Geral de Cursos), que avalia instituições públicas e privadas. Ao todo, 2.020 faculdades, centros universitários e universidades receberam o conceito.

Desse total, 354 (17,5%) tiveram nota insatisfatória. A USP, que começou a participar da avaliação no ano passado de forma experimental, não tem sua nota divulgada.

Rubens Fernando Alencar/Editoria de Arte/Folhapress

O índice de cursos é alvo de crítica do setor privado, que aponta peso excessivo do estudante no resultado final. Isso porque o estudante participa não apenas por meio do Enade, como também por meio de um questionário sobre a organização didático-pedagógica do curso e a infraestrutura disponível.

"O IGC apenas diz que os meus alunos estão mais satisfeitos com a minha escola do que os seus. Objetivamente é isso", afirma Elizabeth Guedes, diretora-executiva da Abraes (Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior).

Ela diz que o concluinte, que faz a avaliação, não possui "nenhum compromisso formal" com o Enade.

JUSTIFICATIVAS

Boicote de estudantes, falta de estrutura e nota diferente da realidade do curso são algumas das explicações das faculdades federais de medicina com desempenho ruim.

"Houve um problema muito pontual entre os alunos contra um professor no ano passado. Eles se mobilizaram e boicotaram o Enade", justificou Lúcia Maria Kliemann, vice-diretora da faculdade de medicina da UFRGS (federal do Rio Grande do Sul). "Entregaram a prova em branco".

Ela diz que a situação já foi solucionada e que a universidade solicitou uma nova avaliação ao MEC.

Já no campus de Cajazeiras da federal de Campina Grande (PB), o diretor Antônio Fernandes admitiu que falta estrutura à unidade.

"Nossos alunos têm dificuldades por falta de hospital universitário e ambulatório de especialidades", afirma. "Tanto que o internato tem sido feito nos hospitais de Campina Grande, João Pessoa ou Fortaleza."

Fernandes afirma ainda que a maioria do corpo docente não tem mestrado nem doutorado. "Falta investimento", reclamou.

A federal de São João Del-Rei (MG) informou que a nota 2 "não expressa a realidade do curso" e que, em visita do Inep (órgão do MEC responsável por avaliações) em 2013, recebeu nota 4.

Disse também que o que mais influiu no resultado do CPC foi o índice que mede a diferença de desempenho do estudante do Enem para o Enade, o que seria "desfavorável" em cursos de alta demanda, como medicina.

Em nota, federal do Pará afirma que, "por um equívoco", inscreveu o número incorreto de alunos como concluintes aptos ao Enade em 2013. "Deveriam ter sido inscritos somente 150 estudantes e foram inscritos 395."

A universidade informa que entrou com recurso ao Inep, mas não foi atendida e pretende recorrer.

Procurada, a Ufpel (federal de Pelotas), do RS, não respondeu à reportagem.

EXPANSÃO CONTROLADA

Nos últimos anos, houve um boom no número de autorizações do governo federal para abertura de novos cursos de medicina. Desde 2011, foram ao menos 44 cursos de medicina em instituições federais e privadas.

No ano passado, no entanto, o MEC inverteu a lógica para abertura de vagas na graduação para o setor privado e passou a indicar os municípios onde novos cursos poderiam ser abertos.

Em setembro, a pasta indicou 39 municípios aptos a receber a graduação. A expectativa é que em breve sejam divulgados editais para seleção das privadas interessadas na abertura de novas vagas.

Ao todo, segundo dados oficiais mais recentes, há no país 206 cursos de medicina. Questionado, o Inep não explicou o motivo da diferença entre esse montante e o total de cursos de medicina avaliados em 2013.


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