Folha de S. Paulo


Servidor com qualificação menor recebe como docente na USP

A folha de pagamento da USP revela situação que a própria reitoria vê como "distorção": a média salarial dos professores no topo de carreira (titulares) é semelhante à dos técnicos no nível mais elevado de cargos.

Dos docentes, porém, se exige doutorado e livre-docência, o que demanda pelo menos dez anos; para os técnicos, o requisito é o diploma de graduação (ainda que possam ter pós-graduação). O salário médio bruto desses docentes é de R$ 23,2 mil. O dos técnicos (classe superior 5) é de R$ 22,1 mil.

A situação desfavorável aos docentes aparece também na comparação dos salários dos técnicos com ensino superior (R$ 11,9 mil) com os dos professores-doutores (R$ 12,3 mil), a maior classe docente da USP.

"A universidade deveria concentrar forças nas suas atividades-fim, como ensino, pesquisa e disseminação do conhecimento. Para isso, o principal é valorizar os professores", afirma o reitor, Marco Antonio Zago.

"Claro que os técnicos são importantes. E não têm culpa de receberem esses valores, é a universidade que decidiu pagar", afirmou Zago.

Os técnicos no topo de carreira têm atividades como auxílio aos pesquisadores em laboratórios ou defesa da universidade em ações judiciais. A reitoria só ressalva que o universo da elite dos funcionários (112) é menor que o de docentes titulares (2.051).

Zago afirma que a distorção de salários entre as duas categorias ficou evidente após os reajustes salariais concedidos nos quatro anos anteriores, na gestão do ex-reitor João Grandino Rodas.

O atual reitor aponta essa política como um dos principais fatores para que a USP passasse a gastar mais do que recebe do Estado apenas com folha de pagamento. Dados da reitoria apontam que 4/5 dos técnicos ganharam reajuste na faixa de 80% a 100% nesses quatro anos. Para docentes, os aumentos ficaram entre 20% e 60%.

Além de terem situação relativamente vantajosa em relação aos professores, funcionários da USP também estão em melhores condições do que os da iniciativa privada.

Os vencimentos na universidade são maiores nos 32 cargos em que foi possível a comparação com o que é pago por empresas (dado coletado pelo Datafolha na capital e região metropolitana de SP).

A média salarial dos 97 jardineiros da USP, por exemplo, é de R$ 4.148. Na iniciativa privada, R$ 1.428. Os 34 arquitetos da universidade recebem em média R$ 11,1 mil; no setor privado, R$ 5,6 mil (valores brutos, para jornadas parecidas).

Editoria de Arte/Folhapress

OUTRO LADO

O ex-reitor Rodas disse que não há distorção entre os salários. "Como recrutar médicos, responsáveis por laboratórios de alta complexidade ou gerentes de pesquisa remunerando-os pifiamente?" "Considerar técnico de alta qualificação como ser de segunda classe é mostra de visão retrógrada, que fará regredir a USP", disse.

Rodas lembrou que o plano de carreira dos técnicos, que permitiu os reajustes, foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário –órgão do qual Zago fazia parte como pró-reitor.

Dirigente do Sintusp (sindicato dos servidores), Magno de Carvalho reconhece que seria "natural" que os docentes ganhassem mais. Mas reclama que a reitoria faz "campanha" culpando os funcionários e seus salários pela crise da USP.


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