Folha de S. Paulo


Técnicas de apoio da USP ganham mais do que o reitor

O sistema de progressão na carreira da USP e algumas decisões judiciais permitem que duas servidoras administrativas ganhem mais que o reitor e que um docente passe dos R$ 60 mil mensais.

O rendimento mensal mais alto da universidade é de R$ 60.248 brutos, do professor aposentado do Instituto de Psicologia Arrigo Leonardo Angelini, 90. "Meu caso é totalmente excepcional, mas totalmente legal", diz Angelini.

O valor abarca salário-base e gratificações. Desse montante deve ser descontado o Imposto de Renda e a contribuição à Previdência. Angelini foi um dos fundadores do Instituto de Psicologia, órgão do qual foi diretor ou vice por 18 anos. Dobrou a jornada de docente por um período da carreira ao dar aulas de manhã e à noite.

O período na direção e a jornada noturna lhe garantiram o pagamento extra, que foi mantido na aposentadoria. Mas a quantia relacionada ao curso noturno teve de ser obtida na Justiça. Na USP, os servidores inativos são pagos com recursos da própria universidade.

Angelini afirmou ainda que recebe gratificação adicional por ter integrado a Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.

Editoria de Arte/Folhapress

PROTOCOLO

Entre os funcionários de apoio ativos, o maior vencimento é da chefe do serviço de protocolo do Instituto de Biociências, Maria Helena da Silva Leme, com R$ 30.380. Procurada pela Folha, ela não quis se manifestar.

A reportagem foi ao seu local de trabalho na semana passada e verificou que a servidora dava expediente. Segundo os dados oficiais, ela atua há 45 anos na USP, em dedicação integral. O posto não exige ensino superior.

Tanto ela quanto uma assistente técnica da reitoria recebem mais que o reitor, Marco Antonio Zago (R$ 28.900). Zago tem 41 anos de carreira, é médico, professor titular (nível mais alto), ex-diretor do HC de Ribeirão Preto e pró-reitor de pesquisa. É dele o 70º maior salário da USP.

A reportagem tomou como base a folha de pagamento de setembro deste ano.

SISTEMA

O reitor da instituição pode ganhar menos que técnicas porque os servidores têm direito a pagamentos adicionais automáticos dependendo das funções que exerçam.

Assim, se um técnico atuar por muito tempo em cargos de chefia, ainda que em funções burocráticas, pode receber mais que o reitor ou que os melhores docentes.

Há ainda professores e funcionários que ganham ações na Justiça para que seus proventos não sejam reduzidos com base no teto.

Lalo de Almeida/Folhapress
Fachada do Instituto de Biociências da USP, na Cidade Universitária (zona oeste de SP)
Fachada do Instituto de Biociências da USP, na Cidade Universitária (zona oeste de SP)

JUSTIÇA

Um grupo de docentes, como Angelini, conquistou também por via judicial a incorporação ao salário de pagamento referente a aulas dadas em curso noturno, quando dobravam a jornada.

Um professor contemplado na ação disse à Folha que seu salário-base é de R$ 14 mil e que o pagamento mensal pelo noturno lhe rende outros R$ 13 mil. Ele pediu para não ter o nome divulgado.

Além disso, funcionários públicos ganham reajustes automáticos, como o quinquênio (5% de aumento a cada cinco anos) e a sexta parte (1/6 de aumento após 20 anos de trabalho).


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