Folha de S. Paulo


Escolas comuns afirmam receber alunos com necessidades especiais

"Todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças [...]."

É o que diz o item 7 da declaração de Salamanca (1994), que gerou diretrizes para a educação inclusiva no mundo. Segundo essa concepção, a escola deve estar preparada para receber todos os tipos de alunos.

Uma criança com síndrome de Down, por exemplo, deve frequentar o ensino regular com outras crianças.

Para atender a necessidades específicas do aluno com deficiência ou transtorno de comportamento (como hiperatividade e deficit de atenção), as atividades podem ser adaptadas -e outras formas de avaliação, consideradas.

Nessa perspectiva, o trabalho do atendimento especializado deve ser complementar, de forma a "prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular", segundo o decreto 7.611 de 2011.

Ivan Dias/FolhaPress
João Tavares, 17, aluno do Graphein
João Tavares, 17, aluno do Graphein

"Não é um reforço escolar, e sim um atendimento que visa quebra de barreiras", explica a fonoaudióloga Viviane Périco, supervisora do Serviço de Apoio à Inclusão Escolar da Apae de São Paulo.

Colocar essa proposta em prática, no entanto, ainda é um desafio. Segundo o Datafolha, 10% dos colégios consultados em São Paulo afirmaram não atender crianças com deficiência.

Apesar de não haver mecanismo para obrigá-los a aceitar todos os tipos de alunos, uma política escolar inclusiva acaba sendo um diferencial que pode beneficiar também estudantes sem deficiência, afirma Vitor Paro, pedagogo e professor titular aposentado da USP.

NOVO PAPEL

"Com a nova política de educação inclusiva, os colégios 'especiais' estão sendo reinterpretados. É um engano pensar que eles deixarão de existir, mas não serão como antes", diz Eder Pires de Camargo, professor da Unesp e coordenador de um grupo de pesquisa nessa área.

Em Perdizes (zona oeste), o colégio Graphein aplica a "educação singularizada"
-com um planejamento pedagógico para cada aluno.

Isso possibilita que turmas não sejam necessariamente formadas por estudantes da mesma faixa etária, mas sim que estejam em fase semelhante do desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

"A escola é que deve se adaptar ao aluno, e não o contrário", diz a coordenadora, Paula Cantos.

A seguir, conheça três trajetórias de inclusão em escolas comuns.

Alfabetização, namoro e natação

No Graphein desde 2009, João está no primeiro ano do ensino médio. Com um atraso no desenvolvimento da aprendizagem, aos 12 anos, ele ainda não era alfabetizado.

Além da alfabetização, o colégio fez um trabalho de mediação que permitiu o desenvolvimento de amizades.

Hoje no primeiro ano do ensino médio, João namora e pratica natação.

Recentemente, tem competido (e ganhado) em piscinas e em provas de mar aberto.

Escola melhorou socialização

Após seis meses no colégio Mackenzie (centro), Joaquim melhorou na socialização e no convívio com os colegas.

Autista, "ele tinha dificuldade de ficar na biblioteca e no teatro. Hoje ele já fica com tranquilidade", diz a coordenadora Márcia Régis.

O plano pedagógico e as avaliações foram adaptadas para o menino, além de um preparo realizado com os colegas.

Há reuniões mensais entre pais, professores e terapeutas, conta a mãe, Ana Paula Barros.

Escriba e prova ampliada

Luíse só consegue ler textos com letras enormes ou utilizando uma lupa eletrônica, que pode custar até R$ 10 mil.

A aluna do Agostiniano Mendel (zona leste da capital) gosta de ir ao cinema. "Geralmente alguém descreve pra mim", conta.

Boa aluna, Luíse perdeu grande parte da visão aos nove.

Na escola, tem o auxílio de uma ledora, de uma escriba e provas ampliadas nas avaliações.

Confiante, Luíse prestará o vestibular para direito.


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