Folha de S. Paulo


Posição da escola no Enem é importante, mas demanda análise cuidadosa

Apesar de ter função de diagnosticar a educação no ensino médio, o ranking do desempenho das escolas no Enem deve ser usado com cuidado pelos pais como critério de escolha.

A influência de fatores socioeconômicos contribui para 75% das notas dos colégios. Isso quer dizer que, no fim das contas, nota depende menos do empenho da escola e mais de fatores como a renda familiar do aluno e o grau de instrução dos pais.

Essa é uma das conclusões da tese de doutorado de Rodrigo Travitzki, professor de biologia que estuda a avaliação escolar por meio do Enem.

Para a escolha da escola, Travitzki diz que a classificação no teste "pode ser uma informação a mais", caso os pais saibam como ela é feita.

Eduardo Knapp/Folhapress
Alunos do colégio Agostiniano Mendel, no Tatuapé (zona leste de São Paulo)
Alunos do colégio Agostiniano Mendel, no Tatuapé (zona leste de São Paulo)

O ranking do Enem se baseia em notas divulgadas pelo Inep -responsável pelo exame. Para este especial, a Folha considerou a média das quatro provas objetivas -ciências da natureza, ciências humanas, matemática e linguagens e códigos.

"A forma 'ranking' acaba sendo enganosa, e é importante que os pais saibam", alerta Travitzki.

Por um lado, entre as primeiras posições, colégios semelhantes podem apresentar uma diferença de desempenho, devido à existência de prova ou triagem na seleção de seus alunos, por exemplo.

Por outro, notas de escolas "medianas" podem subir e descer centenas de posições ano a ano por nenhum motivo além do acaso.

Quem fica tentando explicar essas ascensões e quedas está "desperdiçando seu tutano com indagações vãs", afirma Travitzki.

Para Paula Louzano, pedagoga e doutora em educação pela Universidade Harvard, se olharmos para escolas da mesma faixa de preço e com localização semelhante, o ranking pode ser um critério.

"O Enem não é a melhor medida de qualidade de ensino, mas ao menos as escolas perceberam que estão sendo avaliadas", diz Louzano.

Travitzki afirma que atualmente está estudando estatísticas educacionais, tentando "descobrir se há maneiras mais interessantes" de se utilizar as informações do Enem para ajudar a melhorar as escolas.

RELATIVIZAR

Para Naercio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, na escolha do ensino médio, onde o foco é o vestibular, as notas do Enem são uma boa referência. "Estrutura física pode ajudar, mas é menos importante que aulas organizadas", afirma Menezes.

Thaís Milano, gestora pedagógica do ensino médio da Escola Viva, relativiza a nota em testes como critério. "Temos que pensar na realidade do Enem, mas preparar o aluno para quaisquer escolhas, seja a faculdade ou um ano sabático", diz.

O diretor de vendas Maurício Ghigonetto escolheu a Escola Viva quando a filha mais velha tinha 1,5 ano. "Quando visitei a escola vi a reprodução de um busto de Rodin que uma aluna de nove anos tinha feito. Eu fiz a matrícula sem pensar em notas no vestibular, porque isso é uma consequência natural", diz.

Nos primeiros anos do ensino básico as escolas devem focar em habilidades como extroversão e amabilidade.

Ir ao local, sentir o ambiente e conversar com a diretoria são bons métodos para checar se o foco não é apenas o currículo, diz Menezes, do Insper.

Para o professor Antônio Augusto Gomes, coordenador do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), os pais devem buscar uma escola mais ou menos rígida de acordo com o perfil da família.

Para tanto, ele recomenda visitar o site da instituição e falar com os pais de alunos matriculados. Devem ser evitadas escolas grandes demais, onde é difícil acompanhar alunos individualmente, diz.

Colaborou André Cabette Fábio

Editoria de arte/Folhapress

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