Folha de S. Paulo


1/3 dos docentes de universidades particulares recebe por hora-aula

Um em cada sete docentes de universidades brasileiras recebe por aula dada e não tem vínculo com a instituição. A distribuição dessa categoria, os "horistas", no entanto, é bastante diferente nas escolas públicas e privadas.

Dados tabulados pelo RUF (Ranking Universitário Folha) com base no MEC mostram que só 4% dos professores das universidades públicas são horistas. Já nas privadas, a taxa sobe para 33%.

A diferença de cenários, dizem especialistas ouvidos pela Folha, tem motivo financeiro: o contratado é caro para as privadas. "Já os horistas ganham, em média, R$ 80,00 por hora-aula", diz Helena Sampaio, da Faculdade de Educação da Unicamp.

Dados sobre corpo docente foram usados no indicador de ensino do RUF, um dos critérios de classificação das instituições. Ganham pontos aquelas com docentes em tempo integral e parcial; horistas não pontuam.

Esse foi um dos quesitos de maior repercussão do RUF, publicado na segunda-feira (8). A reclamação é que universidades privadas –52% das 192 escolas avaliadas– perdem competitividade em comparação com públicas.

Para Elizabeth Balbachevsky, especialista em políticas de educação da USP, há vantagens na qualidade do ensino se o docente tiver contrato integral. "Por outro lado, é preciso lembrar que professores em regime de hora-aula são muito frequentes na Europa e nos EUA, inclusive em instituições de prestígio."

Na PUC-Chile, que recentemente passou a USP no posto de melhor universidade da América Latina no ranking internacional QS, só metade dos 3.228 docentes têm dedicação integral; o restante tem contrato parcial ou é horista.

"O fenômeno dos horistas vem crescendo de forma sistemática", diz Renato Pedrosa, do grupo de estudos de ensino superior da Unicamp.

No Brasil, há exemplos de boas escolas que fazem a opção de horistas. É o caso da FGV, que tem quase metade do corpo docente formado por horistas.

De acordo com Maria José Tonelli, vice-diretora da escola de administração da FGV, isso acontece porque os cursos da instituição demandam mais profissionais que estão no mercado. São consultores, empresários, juízes.

Outra justificativa está nas avaliações internacionais. A FGV submete-se a avaliações que, diz a escola, exigem 50% do corpo docente seja "profissional" –ou seja, vinculado ao mercado.


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