Folha de S. Paulo


Número de estudantes de escola pública na Unicamp cresce 20%

O número de alunos de escolas públicas aprovados no vestibular e matriculados na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) cresceu 20% em um ano, informou a instituição nesta sexta-feira (14). Eles passaram de 30,7% dos inscritos em 2013 para 37% em 2014.

Entre os que se declaram pretos, pardos e indígenas, a alta foi ainda mais expressiva: 34%. Apesar disso, esse grupo ainda representa apenas 17,7% das matrículas neste ano, ante 13,2% no ano passado.

"Os resultados foram bastante positivos", avalia o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge. "O Paais [Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social] deve ser intensificado porque esse é o nosso grande programa de inclusão. A base de inscritos não se alterou, mas a quantidade de aprovados, sim."

Jorge se refere à proporção de egressos de escola pública que se inscreveram no último vestibular. Foram 27,2% em 2013 e 27,0% em 2014. O número de pretos, pardos e indígenas subiu pouco, de 16,5% para 17,4%.

O reitor afirma que a meta, agora, é aumentar o número de inscritos provenientes de escola pública. "Quanto mais alunos de escola pública se inscreverem, mais chance temos de aumentar o número de aprovados e matriculados."

DIFERENÇAS ENTRE CURSOS

Apesar de o resultado ter sido considerado um sucesso, ainda há grande disparidade no número de matriculados entre cursos. Enquanto os alunos de escola pública representam 85,71% dos matriculados em letras (licenciatura) noturno e 82,76% em licenciatura integrada de química e física, eles são apenas 7,27% dos novos alunos de engenharia de produção e 10,53% em geologia.

Nos cursos mais concorridos, no entanto, a participação tem crescido e está próxima da média (37%). Em medicina, que neste ano foi o curso mais concorrido, com 145 candidatos por vaga, os egressos de escola pública passaram de 14,55% em 2013 para 33,33% neste ano. Em arquitetura e urbanismo, o segundo da lista, com 104 candidatos por vaga, a participação cresceu de 3,33% para 31,03%.

No quesito racial, as diferenças são maiores. Os cursos com a maior presença de pretos, pardos e indígenas são licenciatura integrada de química e física (44,83%), ciências sociais noturno (40%), tecnologia em controle ambiental integral (36,36%). Os com menor proporção são letras (licenciatura) integral (3,45%), engenharia de produção (5,45%) e geografia (5,56%).

"Vamos fazer uma análise mais fina dos piores cursos em termos de inclusão", afirma Jorge. "Estamos muito mais perto de atingir a meta de escola pública [50%] do que a de pretos, pardos e indígenas [35%]. Como a bonificação é ajustável, podemos alterá-la para atingir nosso objetivo."

AÇÃO AFIRMATIVA

A alta é resultado do bônus oferecido pelo Paais (Programa de Ações Afirmativas e Inclusão Social) a esses candidatos. Até o vestibular anterior, a Unicamp concedia 30 pontos extras a alunos de rede pública e outros 10 a estudantes que se declarassem pretos, pardos e indígenas. A pontuação neste ano subiu para 60 e 20, respectivamente.

Em média, um candidato em medicina é aprovado com 660 pontos; em engenharia, com 570 (a pontuação varia entre os cursos).

Criado em 2004, o Paais busca beneficiar estudantes de escolas públicas que chegavam próximos da convocação, segundo a Unicamp, mas perdiam a vaga por poucos pontos.

A mudança foi feita para tentar atingir metas fixadas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), de ter 50% das matrículas de USP, Unesp e Unicamp provenientes de escolas públicas e 35% de pretos, pardos ou indígenas.

USP E UNESP

Para atingir a mesma meta, no último vestibular a USP (Universidade de São Paulo) aumentou o bônus para vestibulandos da escola pública de 15% para 20% e criou um bônus extra de até 5% para pretos, pardos e indígenas. Até então, a universidade não concedia nenhum benefício extra a esses candidatos.

No vestibular anterior, 28% dos matriculados na instituição vieram de escolas públicas.

A Unesp (Universidade Estadual Paulista) adotou um sistema diferente para chegar à meta. A implementação das cotas será progressiva nos próximos quatro anos. No vestibular 2014, 15% das vagas foram reservadas para egressos de escola pública, percentual que crescerá a cada vestibular até atingir os 50%.

O modelo é semelhante ao implementado em universidades federais, em que os cotistas são chamados até que se complete os percentuais estipulados. A participação da rede pública hoje na Unesp já é de 40%, mas há grande variação entre as áreas. Em medicina, por exemplo, é de apenas 2%.


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