Folha de S. Paulo


EUA anunciam mudanças em seu 'Enem'

Os alunos que tentarão ingressar em uma universidade americana em 2016, inclusive os brasileiros, vão enfrentar uma prova diferente.

Na última quarta-feira, foram anunciadas mudanças conceituais e práticas no exame chamado SAT (sigla que em inglês significa teste de avaliação escolar), uma espécie de Enem dos EUA.

A prova é usada pela maioria das universidades americanas como um dos elementos de seleção de calouros.

editoria de arte/folhapress

No ano passado, mais de 1,5 milhão de estudantes prestaram o exame.

Conceitualmente, o SAT pretende se tornar mais próximo do que se aprende no ensino médio das escolas americanas. E também do que o aluno verá na universidade e no mercado de trabalho.

Entidade sem fins lucrativos que organiza o exame, o College Board divulgou que apenas 20% dos professores das escolas americanas consideram testes como SAT e seu rival, ACT, uma forma justa de avaliar seus trabalhos.

"É hora de admitir que estamos longe dos colégios", afirmou David Coleman, presidente do College Board.
palavras 'obscuras'

Para cumprir as alterações conceituais, foram anunciadas também mudanças práticas na prova, a serem implementadas em 2016.

Uma delas é que serão abolidas o que a organização do SAT chama de palavras "obscuras", que não são usadas nos cursos universitários ou no mercado de trabalho -problema comum no teste brasileiro.

Um dos exemplos apontados foi o termo "depreciatory" (depreciativo).

"Na internet, há diversos sites com até 5.000 palavras que os alunos ficam estudando, muitas de origem latina, que os americanos têm dificuldade. Isso deve diminuir", disse o professor Olavo Amorim, coordenador do departamento internacional do Colégio Bandeirantes (SP), uma das instituições autorizadas a aplicar o SAT no Brasil.

Segundo Amorim, boa parte dessas palavras provém da literatura recomendada aos alunos, em geral de clássicos. "Pelo que foi anunciado, a leitura recomendada será mais próxima do aluno."

Ainda não é possível definir o que exatamente passará a ser cobrado, pois a organização da prova divulgou somente as diretrizes do redesenho do exame.

Outra mudança já anunciada é que, mesmo a prova sendo composta por testes de múltipla escolha, os alunos terão de justificar suas respostas, escolhendo trechos de textos que sustentem a alternativa escolhida na questão.

Também não haverá mais o desconto de 0,25 ponto por questão errada, e a redação ("essay") passará a ser opcional e terá nota divulgada separadamente das provas de leitura e de matemática.

IMPACTOS

Segundo pesquisadores consultados pela Folha, ainda não é possível avaliar com precisão o impacto das mudanças, tanto para os alunos americanos quanto para estrangeiros.

"As mudanças sugerem nova abordagem que valoriza os conteúdos do ensino médio e não um teste de aptidões futuras que caracterizou o SAT desde a sua criação [em 1926]", disse Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Inep (instituto de pesquisas do Ministério da Educação) no governo FHC.

"Mas ainda faltam elementos para saber como isso será feito", afirmou.

Também ex-presidente do Inep (gestão Lula), Reynaldo Fernandes diz que a alteração, a princípio, não prejudica ou beneficia especificamente alunos de fora dos EUA.

Apenas um ponto apresentado na divulgação, afirma ele, pode ter impacto negativo para os estrangeiros, dependendo da implementação: a maior utilização de documentos históricos da sociedade americana, como a Declaração de Independência.

BRASIL X EUA

Apesar de terem provas para a seleção de calouros, o processo de escolha de universitários no Brasil e nos EUA tem diferenças.

A principal é que nos EUA, em geral, exames como SAT e ACT são apenas um dos elementos analisados.

Além do desempenho em exames nacionais, contam também as notas nos colégios, cartas de recomendação e atividades extracurriculares (ajuda em projetos sociais, prática de esportes etc). No Brasil, as universidades ou usam apenas o Enem ou aplicam seus próprios vestibulares.


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