Folha de S. Paulo


Com Orçamento 'estourado', USP faz corte em obras e contratações

O novo reitor da USP, Marco Antonio Zago, decidiu reduzir os gastos da universidade com obras, contratações e com o programa próprio de financiamento de pesquisas.

A nova gestão avalia que a situação orçamentária é preocupante. A universidade destinou ano passado 100% do seu Orçamento para folha de pagamento. Os demais custos foram cobertos com reservas orçamentárias.

Dados extraoficiais apontam que a USP utilizou R$ 1 bilhão dos R$ 3 bilhões de reserva que possuía. Por ser instituição pública, a universidade não pode demitir servidores para cortar gasto.

Com esse panorama, Zago, que tomou posse mês passado, decidiu proibir qualquer contratação de professor ou de funcionário. E suspender o início de novas obras.

Estava prevista, por exemplo, a construção de novos prédios para o MAC (Museu de Arte Contemporânea), Instituto de Estudos Avançados e Núcleo de Estudos da Violência. Melhoria das faculdades também estão suspensas.

O contingenciamento vale por ao menos dois meses, quando será feita reavaliação da situação orçamentária.

PESQUISAS

Houve redução também nos recursos destinados ao programa próprio de financiamento de pesquisas (os Núcleos de Apoio à Pesquisa), iniciado em 2011.

A USP diz ser esse o primeiro programa do país em que uma universidade banca suas pesquisas. Tradicionalmente, o financiamento é feito por agências estatais como Capes, CNPq e Fapesp.

O tamanho do corte não está claro. Escolhida em janeiro como pesquisadora de um dos núcleos da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), Mariana Botta, 37, afirma que foi informada de que não ganhará mais a bolsa mensal de pós-doutorado (R$ 4.000).

"Essa seria quase a minha renda total. Agora, não sei como vou fazer. Tem muita gente desesperada", afirmou ela.

A reitoria diz que a redução no projeto foi feita apenas neste mês, até que o Orçamento da instituição seja votado, no dia 25. Só então será definido se haverá corte permanente no programa.

Apesar de simbólico, o projeto não é o que sustenta a maior parte das pesquisas da USP. Desde 2011, foram investidos R$ 219 milhões. Somente em 2012, a Fapesp repassou R$ 500 milhões a pesquisadores da universidade.

OUTRO LADO

O reitor anterior, João Grandino Rodas, não foi localizado ontem para comentar as reduções de gastos.

No fim do ano passado, seus auxiliares disseram reservadamente que a USP usou parte das reservas para atender sugestão do governador de SP, Geraldo Alckmin (PSDB), que estava incomodado com o montante de recursos públicos "parados".

Somente para obras, a USP chegou a mais que dobrar a verba em um ano (de 2010 para 2011 foi de R$ 36 milhões para R$ 84 milhões).

Além disso, a então reitoria esperava crescimento econômico do país maior do que o de fato ocorreu –o que aumentaria a verba da USP, baseada em imposto estadual.


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