Folha de S. Paulo


Novo reitor assume USP com orçamento no limite; leia entrevista

Marco Antonio Zago é visto como um apaziguador –e talvez tenha sido essa característica que levou o médico do campus de Ribeirão Preto a chegar à reitoria com 25% mais votos do que a soma dos seus dois concorrentes.

Zago tem a missão de reduzir os conflitos na universidade e de melhorar o diálogo.

Também tem o desafio de gerir as finanças da universidade. Hoje, 100% do orçamento é gasto com salários. O resto vem das reservas que, dizem, são de R$ 3 bilhões.

Adriano Vizoni-18.nov.13/Folhapress
O novo reitor da USP, Marco Antonio Zago, durante debate na *Folha* em novembro
O novo reitor da USP, Marco Antonio Zago, durante debate na Folha em novembro

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O que o senhor espera implementar na USP?
Eu gostaria que o ensino de graduação sofresse um progresso. Também desejo uma descentralização administrativa e de atividades acadêmicas, com decisões ocorrendo mais localmente nas unidades. Gostaria de deixar uma universidade mais unida, mais coesa, na qual o diálogo seja uma atividade rotineira. Há uma expectativa de menos conflitos. A grande massa dos alunos não está sequer participando do debate.

O que pode ser feito de diferente para ter esse diálogo?
É preciso atrair a massa da universidade. O que pensa a massa dos docentes? E dos estudantes? Temos de reestabelecer esse diálogo. Um grupo de alunos se sente inconformado porque suas teses não foram absorvidas [por exemplo, a proposta de eleição direta à reitoria]. Eles estavam respaldados por uma ampla maioria de estudantes? Não. A maioria dos estudantes não estava sequer interessada no debate.

Como está a situação orçamentária da USP?
Temos um orçamento bastante apertado. O comprometimento com a folha de pagamentos é próximo de 100% do repasse orçamentária do governo. E portanto temos de fazer uso das nossas reservas para cobrir as despesas correntes, de consumo, contratos. Não é uma situação pontual porque em entidade pública não se mexe muito na folha de pagamento. Vamos ter de replanejar.

A USP vai bem em avaliações como o RUF (Ranking Universitário Folha) porque tem bons cursos ou porque já pega os melhores alunos?
A USP pega os melhores alunos e, portanto, sai com uma vantagem. Mas nós precisamos ter certeza de que usamos bem essa vantagem. Precisamos entregar na sociedade pessoas com uma formação melhor ainda. A USP tem uma responsabilidade: recebe recursos vultuosos e precisa dar um retorno.

E como está a graduação da USP nacionalmente?
Faltam informações. Uma medida é o Enade [Exame Nacional de Desempenho do Estudante], do MEC. O Enade tem defeitos, mas é uma medida objetiva e nacional que a USP decidiu não participar [a universidade aderiu ano passado de forma experimental: os alunos fazem a prova se quiserem, e as notas não são divulgadas]. Tenho certeza de que temos de discutir isso.

O que pode melhorar especificamente na graduação?
Gostaria de ter um ensino muito mais moderno, mais voltado à necessidades da sociedade, e currículos mais flexíveis. A USP tem uma rigidez muito grande em seus currículos. Os alunos entram na USP para fazer "engenharia elétrica"– não entram para fazer "engenharia". O jovem é muito precocemente obrigado a escolher a sua carreira. Isso contribuiu para a evasão. [em torno de 25%].

Como o senhor vê a USP comparativamente com universidades estrangeiras? A USP caiu no ranking THE em 2013.
Os rankings captam aspectos da universidade. O ranking produzido na China, por exemplo [ranking ARWU], leva em conta o número de professores com prêmio Nobel na universidade. Se a USP contratasse um prêmio Nobel, iria lá para cima no ranking. Isso melhoraria a universidade? Não.


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