Folha de S. Paulo


Polícia Federal investiga suposta fraude do Enem 2013 em Minas

A Polícia Federal vai investigar uma quadrilha suspeita de fraudar o Enem 2013 (Exame Nacional do Ensino Médio) na cidade de Barbacena, região central de Minas Gerais.

A investigação foi iniciada pela Polícia Civil de Minas Gerais, mas repassada à PF, que é responsável por apurar eventuais fraudes no exame organizado pelo governo federal.

A polícia mineira já havia indiciado 36 pessoas sob suspeita de fraudar vestibulares de cursos de medicina em Minas e no Rio de Janeiro, o que ajudou a descobrir a fraude no Enem.

As investigações apontam que um fiscal da prova em Barbacena recebeu R$ 10 mil para fornecer à quadrilha cópias do caderno amarelo, logo no começo do exame, para garantir a aprovação dos candidatos.

De posse dos cadernos, o grupo enviava as questões para seus "pilotos" –pessoas preparadas para fazer a prova–, que as devolviam para os chefes do esquema.

A segunda etapa da fraude era repassar as respostas, por mensagens SMS ou pontos eletrônicos, para os estudantes que realizavam as provas do Enem. Eles pagaram entre R$ 70 mil e R$ 100 mil pelas informações.

Como o gabarito preenchido pelos pilotos era referente apenas às provas do caderno amarelo, os estudantes que tinham recebido cadernos de outras cores receberam da quadrilha também uma frase que permitia que eles se identificassem como portadores do caderno amarelo.

O Enem exige que essa frase seja escrita pelo estudante na folha de gabarito.

Para o delegado Fernando José Barbosa Lima, responsável pela apuração na Polícia Civil, houve falha dos fiscais na conferência dos gabaritos. Se o candidato precisasse marcar a cor da prova na frente do aplicador do exame, ele o fazia com uma caneta cuja tinta poderia ser apagada depois. Dessa forma, ele escrevia a frase do caderno amarelo posteriormente.

A PF vai apurar agora a dimensão da fraude no Enem. "Numa análise preliminar, tudo indica que foi uma fraude pontual no município de Barbacena", disse o delegado da PF Paulo Henrique Barbosa.

As investigações tentarão apontar quantos estudantes pagaram para obter o gabarito. O fiscal que teria vendido o caderno ainda não foi identificado.

Foram repassados para a PF dois cadernos amarelos (referentes aos dois dias de exame) apreendidos com José Cláudio de Oliveira, apontado como um dos coordenadores da quadrilha, 30 gravações de conversas telefônicas entre ele e Quintino Ribeiro Neto, 63, e cópias de mensagens SMS com parte dos gabaritos.

Segundo o delegado, a quadrilha repassou aos candidatos celulares preparados com peças plásticas, de forma que não fossem identificados por eventuais detectores de metal.

Apesar da declaração do delegado da PF de que há indício de fraudes, o Inep (instituto federal responsável pelo Enem) afirmou que "até o momento, de acordo com a Policia Federal, não existe qualquer elemento que indique, mesmo de forma pontual, que qualquer candidato tenha sido beneficiado".

Procurada pela reportagem, a Superintendência da Polícia Federal em Minas Gerais afirmou que tanto a declaração do delegado quanto do Inep "estão corretas". Elas, porém, são contraditórias. Até o momento, o órgão não esclareceu o caso.

Em nota, o Inep afirmou ainda que "a segurança do Enem é realizada, antes durante e após a aplicação das provas, com o acompanhamento da Polícia Federal, o que tem permitido, ao longo dos anos, o aprimoramento do processo".

Disse também que, se comprovada a fraude, o edital prevê a eliminação dos candidatos beneficiados.


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