Folha de S. Paulo


Cursos mais visados da USP estão longe de metas sociais

Três dos cursos da USP que estão entre os dez mais procurados --direito, medicina e engenharia na Poli-- tiveram queda na quantidade de estudantes pretos, pardos e indígenas nos últimos cinco anos.

Medicina, especificamente, não teve nenhum matriculado preto no ano passado. E, junto com direito, teve queda na participação de alunos que estudaram na rede pública e que entraram na universidade de 2009 a 2013.

Os dados, tabulados pela Folha, mostram que a USP está longe de atingir a meta do Estado de ter 50% em cada curso das universidades estaduais paulistas vindos da rede pública. O governo também quer 35% de pretos, pardos e indígenas por curso.

As metas foram aprovadas na USP neste ano. De acordo com a atual gestão, devem ser cumpridas em 2018.

Hoje, nenhum dos dez cursos mais procurados atinge os índices. O que mais se aproxima da meta de pretos, pardos e indígenas é enfermagem, com 24,4%. E o mais perto do índice de oriundos a rede pública é letras, com 38%.

Um novo passo para aumentar a equidade social e racial --e para se aproximar das metas-- será dado com o aumento do bônus no vestibular, que acontece amanhã.

Pela primeira vez desde que o bônus social foi implementado, em 2006, os candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham feito toda a escola na rede pública terão bonificação. Esses estudantes podem receber até 25% a mais na nota da prova.

A novidade virou assunto entre os vestibulandos.

"O bônus acaba prejudicando. Vai interferir na meritocracia, porque vai ter candidato na minha frente com nota bem menor", diz Rafael Kobayashi, 20, que quer fazer engenharia na Poli -onde só 7,7% dos calouros deste ano eram pretos, pardos e indígenas.

"Sou contra qualquer tipo de cota. A vaga é de quem tirou a maior nota."

Para o dirigente de uma das principais escolas particulares paulistas, os bônus da USP podem expulsar bons alunos --inclusive para fora do país.

"Desde que a universidade pública virou um elemento para inclusão no Brasil, percebo que muitos dos bons alunos passaram a falar mais em estudar nos EUA", diz.

Para representantes de movimentos sociais, o novo bônus da USP é insuficiente. Frei David, da ONG Educafro, por exemplo, continua defendendo as cotas raciais na universidade. "A USP quer manter uma reserva de espaço para a classe média", diz.


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