Folha de S. Paulo


Cidade baiana abandona projeto de colocar chip em uniforme escolar

Uma solução tecnológica pioneira e milionária, que prometia acabar com a evasão escolar em Vitória da Conquista (BA), foi abandonada pela prefeitura.

O projeto de R$ 1,1 milhão que monitorava a chegada e saída de alunos nas escolas através de um chip no uniforme se resume, hoje, a um adereço na manga das camisetas, sem qualquer utilidade.

A ideia era que, quando os alunos passassem pelo portão da escola, os pais recebessem uma mensagem no celular. Um sensor na porta do colégio detectaria o aluno que estivesse usando o uniforme com o chip.

O projeto, contudo, patinou deste o início: pais receberam mensagens com horas de atraso ou até "alarmes falsos", chips se descosturaram das camisetas e houve atrasos na entrega dos uniformes.

Divulgação - 21.mar.12/Prefeitura de Vitória da Conquista
Aluna com uniforme com chip em escola municipal de Vitória da Conquista (BA); cidade abandonou o projeto
Aluna com uniforme com chip em escola municipal de Vitória da Conquista (BA); cidade abandonou o projeto

EXPECTATIVA

Implantado de forma experimental em 2011, o projeto previa monitorar 17 mil alunos de 25 escolas municipais em 2012, num contrato entre a empresa DaCosta & Chiara e a gestão do prefeito Guilherme Menezes (PT), mas sequer começou a funcionar em alguns colégios.

Na escola Zica Pedral, na periferia, 300 alunos receberam o uniforme com o chip e não houve monitoramento porque os equipamentos necessários não foram instalados "por falta de local adequado", disse a diretora Elisabete Moreira.

Já nas escolas Paulo Freire, localizada num bairro de classe média, e Antônia Cavalcante, na periferia, o projeto durou de forma regular só quatro meses.

O diretor da Paulo Freire, Sidney Silva, diz que a experiência, ainda que de curta, disciplinou os alunos. "A evasão caiu de 10% para 2%."

No entanto, problemas com o sinal de internet e a má localização de equipamentos fizeram com que mensagens chegassem aos pais com atraso ou simplesmente não chegassem.

"O aluno chegava às 7h30 e o pai era avisado às 10h", disse Gerlane Silva, diretora da Antônia Cavalcante.

Agora, os estudantes se dizem "livres para matar aula". "Eu mesmo só assisto a três das cinco aulas diárias", diz Herivaldo Oliveira, 14.

"Só usei a farda um mês. Era muito ruim", disse Tatiana Souza, 13.

OUTRO LADO

A Prefeitura de Vitória da Conquista afirmou que a experiência com chip nos uniformes reduziu a evasão escolar de 11% em 2011 (quando não existia o programa) para 9% em 2012.

A administração admitiu que ajustes precisam ser feitos e que, junto com as diretorias das escolas, concluiu que o projeto "não terá continuidade nesse primeiro momento".

Em março deste ano, a prefeitura havia publicado no "Diário Oficial" ata de dispensa de licitação no valor de R$ 2,6 milhões, que foi revogada.
Não há previsão para reativar o projeto, que teve investimentos da prefeitura, com parte da verba enviada pelo MEC.


Endereço da página: