Folha de S. Paulo


Análise: Atratividade da carreira docente é questão-chave

Os dados do Enade 2011 apontam que os concluintes de cursos de licenciatura e pedagogia obtêm notas inferiores aos dos concluintes das áreas de engenharia e tecnologias na prova de "formação geral". O que isso quer dizer?

Em resumo, que os futuros professores das escolas brasileiras estão menos preparados do que profissionais de outras áreas em habilidades como compreensão de texto e resolução de problemas.

Veja o especial Quem educa os educadores?

Embora esse resultado diga pouco sobre o conteúdo dos cursos, já que a formação geral não é o foco deles, trata-se de uma constatação bastante preocupante.

Isso porque essas habilidades são justamente aquelas que se espera que esses profissionais ajudem crianças e jovens a desenvolver ao longo de sua vida escolar.

Com isso, o Enade confirma que a defasagem trazida da educação básica pelos alunos dos cursos de pedagogia e licenciatura --já apontada em outras avaliações-- não é corrigida ao longo de quatro anos de faculdade.

Os poucos estudos sobre fluxo no ensino superior também mostram que as taxas de repetência e evasão são mais baixas nestes cursos em comparação com outras áreas (pelo fato de os alunos entrarem menos preparados na faculdade, seria possível imaginar justamente o oposto).

Ao mostrar que alunos dos cursos mais concorridos obtêm melhores resultados no exame, o Enade também reforça a relação decisiva entre a atratividade de uma carreira e a qualificação dos profissionais que atuam nela.

Esse desafio é enorme na área da educação, uma vez que estamos falando de tornar atrativa --e, portanto, concorrida-- uma carreira que recebe das universidades mais de cem mil novos profissionais por ano.

Outra informação que chama a atenção nos números do Enade 2011 é que, nos cursos de licenciatura e pedagogia, o conjunto das universidades públicas tem desempenho semelhante ao conjunto das universidades privadas.

Embora sejam necessários mais elementos para uma análise qualificada, esse é um dado que merece ser trazido para o debate.

O papel decisivo de bons professores para o aprendizado dos alunos nas escolas já é um consenso.

Os dados do Enade reforçam que para termos esses bons professores em todas as salas de aula brasileiras é urgente garantirmos uma carreira docente mais atrativa, uma formação inicial exigente e uma formação continuada que esteja diretamente ligada às principais habilidades que os professores precisam desenvolver em suas atividades na escola.

ERNESTO MARTINS FARIA é coordenador de projetos da Fundação Lemann


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