Folha de S. Paulo


Fósseis com pegadas pré-históricas serão replicadas em São Carlos

Encontradas em pedreiras, as pegadas de animais pré-históricos do Museu da Ciência de São Carlos (a 232 km de São Paulo), que já foram consideradas como "defeitos" pelos comerciantes de calçamento, serão replicadas devido à sua importância histórica e científica.

Das 40 peças expostas no museu, dez serão replicados pelo Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo).

As réplicas serão usadas para montar uma exposição e servir como "moeda de troca" para conseguir réplicas e até mesmo fósseis de outros países para museus do Brasil.

O paleontólogo Luiz Eduardo Anelli, coordenador da oficina de réplicas da USP, disse que as peças encontradas têm importância não apenas para a história natural do país, mas também para o estudo da paleontologia.

Edson Silva/Folhapress
O palentólogo Marcelo Adorno Fernandes, no Museu da Ciência de São Carlos
O palentólogo Marcelo Adorno Fernandes, no Museu da Ciência de São Carlos

Uma das peças do museu que foi replicada traz o vestígio do que seria uma espécie de urina dos dinossauros, que habitaram a região há 140 milhões de anos.

Até então, de acordo com ele, acreditava-se que eles

excretassem somente em forma sólida.

O fóssil, encontrado no município de Araraquara, foi o primeiro registro da história da urina dos dinossauros.

"Todo museu gostaria de ter uma placa com o rastro do xixi de um dinossauro, mesmo que seja uma réplica", afirmou Anelli.

MOEDA DE TROCA

"Elas vão ser nossa moeda de troca para conseguir mais peças para o Brasil", afirmou.

"Podemos negociar esqueletos de pequenos dinossauros com países como Argentina ou Portugal, que têm muito fósseis desse tipo", disse o paleontólogo.

Na última semana, Anelli finalizou o molde das peças, que poderão ser replicadas até cem vezes.

Ele afirmou que até o início do ano que vem pretende ter ao menos dez coleções com todas as réplicas para iniciar a negociação de trocas com outras instituições.

O paleontólogo Marcelo Adorno Fernandes, um dos responsáveis por descobrir os fósseis nas pedreiras da região de Ribeirão Preto, disse à Folha que as pegadas dos animais comprovaram que o chamado paleodeserto Botucatu (um gigantesco deserto de dunas do período Jurássico) tinha oásis, com nascentes de água.

"As pegadas, que comprovam que dinossauros carnívoros, pequenos mamíferos primitivos e insetos passaram por esta região, só foram registradas pela presença de umidade", disse Fernandes.

PEDRAS 'DEFEITUOSAS'

O paleontólogo iniciou a busca pelos fósseis quando tinha 16 anos de idade.

Elas foram encontradas em pedreiras. Normalmente as pedras com os vestígios eram comercializadas como "defeituosas" e, por isso, eram viradas para baixo na montagem do calçamento.

Além das peças do museu, outros 500 fósseis estão guardados na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), onde Fernandes é professor.

De acordo com ele, museus de outros Estados brasileiros e até mesmo da Argentina e dos EUA já se mostraram interessados em receber réplicas de alguns dos fósseis de São Carlos.


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