Folha de S. Paulo


Com receio, especialista diz temer 'museus fantasmas'

A transferência da administração dos museus para os municípios pode ser benéfica porque deve ajudar as prefeituras a criar programações culturais próximas à sua comunidade. A menor burocracia também é uma vantagem, segundo especialistas.

Por outro lado, dizem que, se a mudança não for bem estruturada, os locais onde a história deveria ser preservada podem se transformar em "museus fantasmas".

Especialistas ouvidos pela Folha disseram que a transferência deve ser acompanhada de cursos de capacitação. A realidade financeira das cidades também precisa ser levada em consideração.

Hoje, municípios da região de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), por exemplo, estão sofrendo com a queda na arrecadação de impostos, o que tem afetado, inclusive, serviços básicos em setores como saúde e educação.

"A princípio, a transferência é saudável, afinal o museu pertence àquela comunidade", disse Marco Antônio Villa, docente de história política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

No entanto, para ele, a mudança somente será eficaz se os municípios tiverem condições financeiras de assumir estes espaços e promover melhorias nos museus.
"Atualmente são muitos museus fantasmas, sem manutenção", afirmou.

A historiadora pela USP (Universidade de São Paulo) Simona Misan disse que estes museus foram criados em meados da década de 50 com uma "intenção ufanista, para moldar uma nação por meio da valorização de seus heróis e de importantes acontecimentos históricos".

É o que diz a pesquisa de Simona, de 2008, "Os Museus Históricos e Pedagógicos do Estado de São Paulo".

Porém, a implantação foi feita de forma diferente. Os espaços abrigaram objetos, documentos, fotografias, animais e pedras encontrados na região onde o museu foi implantado, segundo Simona.

"Assim eles figuraram muito mais um conteúdo municipal ou regional do que um conteúdo voltado aos valores de ordem estadual ou federal", afirmou a historiadora.


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