Folha de S. Paulo


Cidade mineira teme isolamento após queda de nível em reservatório

Com o reservatório que banha a cidade no menor nível em 15 anos, os moradores de Delfinópolis (MG) vivem a pior crise do município e temem o desemprego, a queda na produção de banana e até mesmo o isolamento.

A travessia de 15 minutos de balsa pela represa, formada em 1957 para abastecer a usina Mascarenhas de Moraes, tem sido uma preocupação dos moradores por causa das consecutivas quedas no nível da água.

Sem a quantidade certa, fica praticamente impossível atracar no local. Com isso, os moradores temem ser isolados -outro acesso é pela estrada sem asfalto de 35 quilômetros até Passos (MG).

Obras de rebaixamento do embarcador estão sendo feitas, mas a espera para atravessar o trecho, de três quilômetros, pode levar até quatro horas. Além disso, há apenas duas balsas, que apresentam constantes problemas devido à falta de manutenção.

Furnas já foi autorizada a rebaixar em até 13 metros o nível da água do reservatório e há a possibilidade de cair ainda mais quatro metros por causa da forte estiagem.

Operador de balsa há 30 anos, Nilton de Faria, 63, disse nunca ter visto o nível da represa tão baixo. Ele teme problemas na hora de atracar. "Há o risco de alguma coisa atingir a embarcação e acontecer um acidente."

A seca é maior nos braços da represa, onde ficam concentrados ranchos e pousadas e de onde produtores retiram água para irrigar as plantações de banana -o município é o quarto maior produtor da fruta em Minas.

Desde o mês passado, o produtor Sávio Marinho, 53, não consegue puxar água da represa para o bananal. Ele calcula perdas na próxima safra, já que o período atual é de desenvolvimento da planta, que precisa de água.

Caseira há seis anos de um rancho à beira da represa, Silvana Vilela, 28, disse que tem medo de perder o emprego, já que o patrão não vai a Delfinópolis há dois meses. "Ele vinha a cada 15 dias, mas vai vir para ver essa cena triste?"

Herlon César Alves, 37, que consertava lanchas e motos aquáticas e tinha duas marinas na cidade, teve que passar a fazer "bico" no conserto de motos. "A gente consertava mais de dez barcos por mês. Há meses não chega nenhum. E fechei uma das marinas por causa dos poucos barcos", afirmou ele.

Já o prefeito Pedro Paulo Pinto (PMDB) demitiu, desde agosto, 10% dos cerca de 470 funcionários da prefeitura em função da queda na arrecadação. No município de 7.000 habitantes, o orçamento já é 25% menor neste ano.

"É assustadora a nossa situação e eu não tenho mais onde realizar cortes. Nosso município foi muito prejudicado quando fizeram a represa e agora somos afetados com o seu rebaixamento."

Em nota, Furnas informou que foi autorizada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e comunicou a Prefeitura de Delfinópolis sobre a redução do nível até a cota mínima de 653,12 metros


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