Folha de S. Paulo


Crise afeta teatro, museus e até atividades a crianças em Ribeirão

Um dos reflexos da "seca" da cultura já começou a ser percebido neste ano, com a suspensão do Festival de Teatro de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

O evento, realizado há quatro anos, movimenta grupos teatrais de todo o país e abre espaço e incentivo para os artistas se apresentarem.

Cada grupo selecionado receberia R$ 4.500 de incentivo. O festival foi cancelado quando a Secretaria da Cultura já havia recebido 30 inscrições de interessados.

Para o diretor do grupo de teatro Trupe Acima do Bem e do Mal, Mateus Barbassa, o cancelamento do festival foi um "retrocesso absurdo".

Segundo ele, o evento foi uma conquista da classe artística de Ribeirão e se tornou referência nacional.

Silva Junior/Folhapress
A atriz Maria Angélica Braga, com Mateus Barbassa, diretor do grupo de teatro Trupe Acima do Bem e do Mal
A atriz Maria Angélica Braga, com Mateus Barbassa, diretor do grupo de teatro Trupe Acima do Bem e do Mal

A ameaça ao evento foi constatada pelos atores quando a secretaria informou que as peças seriam avaliadas por três jurados por meio de vídeos, economizando assim as despesas com a hospedagem em Ribeirão.

"Depois, simplesmente não foi falado mais nada. É uma falta de respeito com os artistas", disse Barbassa.

Para a atriz Gabriela Vansan, que também havia inscrito uma peça no festival, o cancelamento prejudica a história do evento na cidade.

"O festival já havia sido amplamente divulgado e isso faz perder a credibilidade", afirmou.

A crise financeira também deixou de lado os museus da cidade. Daniel Basso, diretor dos museus Histórico e do Café, afirmou que tenta buscar apoio na iniciativa privada para manter o local.

Atualmente, segundo ele, a prefeitura arca apenas com os gastos de salários de funcionários e o café. As manutenções necessárias, como reformas, estão cortadas.

O museu sofre com infiltrações e há um ano a varanda está interditada em decorrência do piso danificado.

Já o Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto) sofre com falta de segurança. Localizado na região central, o museu não tem guardas ou câmeras de monitoramento.

O Marp abriga exposições itinerantes e acervo permanente de artistas plásticos consagrados, como Bassano Vaccarini (1914-2002), e Leonello Berti (1927-1976).

Projetos que dependem de verba de subvenção também deverão amargar uma crise ainda maior no ano que vem, com a diminuição de 45% no valor total do repasse.

O governo prevê destinar R$ 2,6 milhões a associações e projetos, ante os R$ 4,8 milhões previstos em 2014.

Entretanto, profissionais têm recebido com atraso os salários já neste ano, como os que atuam no Centro Cultural Campos Elíseos.

Os docentes da instituição acumulam dois meses de salários atrasados e já paralisaram as atividades por causa disso.

Os professores afirmaram à Folha, sob condição de anonimato, que poderão suspender definitivamente as aulas a partir do ano que vem, caso os atrasos nos pagamentos persistam.

O centro atende 1.200 crianças e adolescentes e oferece, de forma gratuita, aulas de música, dança e canto.


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