Folha de S. Paulo


Polícia Federal de Ribeirão prende suposto líder de fraude bilionária

A Polícia Federal de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) prendeu o presidente do Conselho Deliberativo da empresa de Sertãozinho (333 km de São Paulo) Smar Equipamentos Industriais, Edmundo Rocha Gorini.

Ele é suspeito de liderar um grupo de empresários num esquema bilionário de sonegação fiscal, que causou prejuízo de pelo menos R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.

A prisão aconteceu na madrugada desta terça-feira (18), enquanto Gorini estava na casa dele, no Jardim Recreio, em Ribeirão Preto.

O grupo praticou crimes de naturezas tributária e financeira, de acordo com o Ministério Público Federal, como sonegação fiscal, descaminho, evasão de divisas e fraudes em exportações.

"Este grupo comete crimes desde 1984. A ficha deles é um passeio pelo Código Penal", afirmou o delegado da PF Paulo Vibrio Junior.

Outras sete pessoas, entre empresários e diretores da Smar, estão sendo procurados pela polícia no Brasil e também no exterior.

Edson Silva/Folhapress
Procurador Uendel Ugatti (à esquerda) e o delegado Paulo Vibrio Junior (segundo à esquerda)
Procurador Uendel Ugatti (à esquerda) e o delegado Paulo Vibrio Junior (segundo à esquerda)

Batizada de "Califórnia Brasileira" –em alusão ao apelido que Ribeirão Preto ganhou na década de 80–, a operação é resultado de dois anos de investigação do Ministério Público Federal, da Receita Federal e da PF.

O grupo criou outras 30 empresas dentro e fora do país, por meio das quais supostamente fazia lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além de ocultar os nomes dos reais proprietários.

"Não se trata de uma simples inadimplência fiscal e sim de fraude tributária para ter caixa e domínio do mercado", disse o procurador Uendel Domingues Ugatti.

Segundo ele, o grupo subornava auditores da Receita Federal em aeroportos de São Paulo para subfaturar, em até 50%, as importações.

De acordo com o procurador, há e-mails trocados entre eles que comprovam a liberação dos pagamentos aos agentes públicos.

Com a concorrência desleal, a Smar se tornou líder no segmento de automação industrial, de acordo com dados da investigação.

"Há história de prática criminosa por trás do sucesso da empresa", afirmou Ugatti.

No ano passado, a PF prendeu em flagrante dois funcionários da Smar no aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, sob a acusação de contrabando e descaminho.

Eles haviam desembarcado com componentes eletrônicos norte-americanos sem o pagamento de tributos.

OUTRO LADO

A Smar Equipamentos Industriais, de Sertãozinho, não comentou nesta terça a prisão do presidente do conselho administrativo da empresa, Edmundo Rocha Gorini.

A Folha entrou em contato por telefone com a empresa, mas foi informada de que todos os diretores estavam em viagem, em São Paulo.

Uma funcionária da diretoria informou que tentaria entrar em contato com algum representante da empresa durante a tarde para comentar o assunto.

Até a noite desta terça, no entanto, ninguém da Smar atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

Na casa de Gorini, no Jardim Recreio, ninguém atendeu às ligações.

A Folha também não obteve contato com nenhum advogado do presidente do conselho.

Na internet, a Smar se descreve como líder em automação industrial e a empresa do Brasil que mais detém patentes nos EUA, com subsidiárias em 13 países.

Com 700 funcionários, de acordo com a Procuradoria, ela fabrica equipamentos de automação de alta tecnologia, vendidos no Brasil e exportados a 77 países.


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