Folha de S. Paulo


Dobra o número de invasores em área vizinha ao aeroporto de Ribeirão Preto

Em menos de três semanas, mais que dobrou o número de invasores em uma área localizada a apenas 50 metros do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).

Quando invadida, a área, no Jardim Jóquei Clube, tinha 150 famílias. Nesta quinta-feira (6), já eram cerca de 400.

No final de outubro do ano passado, a prefeitura retirou 53 famílias de um assentamento no entorno do aeroporto e disse que era sua "última ação" para a internacionalização do Leite Lopes.

A internacionalização, uma das principais bandeiras de governo da prefeita Dárcy Vera (PSD), depende da ampliação da pista de pouso de aeronaves.

Questionada nesta quinta sobre o assunto, a prefeitura não quis comentar, sob a alegação de que a área invadida é particular. Para o Estado, as obras não serão afetadas.

A advogada Raquel Montero, que dá assistência às famílias invasoras, disse que irá encaminhar uma carta à prefeita para garantir que as famílias só sejam retiradas da área quando tiverem assegurado o direito à moradia.

"Não interessa a titularidade do terreno, se é público ou particular. A prefeitura tem que cadastrar essas famílias em algum programa habitacional", disse a advogada.

De acordo com levantamento dos invasores, das 118 famílias que já estão com seus barracos prontos e moram integralmente na área, apenas seis estão incluídas em programas habitacionais.

A faxineira Iraci Sousa, 52, afirmou ter investido R$ 100 em pedaços de madeira para construir o seu barraco.

Ela mora no local com os dois filhos, de dois e quatro anos de idade, e relatou que a vida na ocupação é de muita preocupação.

"Tenho medo de tirarem a gente daqui e me deixarem na rua. Tenho medo quando os aviões pousam aqui pertinho. Passo medo o dia todo", contou ela, que deixou o Pará para se mudar para Ribeirão Preto há 15 anos.

Edson Silva/Folhapress
Barracos construídos em terreno ocupado nos arredores do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão
Barracos construídos em terreno ocupado nos arredores do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão

PRESSÃO

As invasões de áreas públicas e particulares se tornaram uma forma de protesto e instrumento de pressão por políticas habitacionais mais abrangentes no município.

"Nós vamos ficar aqui até conseguir uma casa. Se nos tirarem daqui, vamos para outro lugar. Já temos um plano B", disse Brás José da Silva Neto, 43, um dos líderes da ocupação.

O aumento de invasões –11 no último trimestre de 2013– fez com que a prefeitura intensificasse a fiscalização dos terrenos públicos.

Osvaldo Braga, que ocupava a diretoria da Fiscalização Geral e da Coordenadoria de Limpeza, deixou na sexta-feira (28) o segundo cargo para focar sua atuação na fiscalização.

"Vamos intensificar a vigilância nas áreas públicas. Em todas as áreas invadidas entramos com pedido de reintegração de posse, mas nosso objetivo é evitar que elas aconteçam", disse Braga.

O Movimento Livre Nova Ribeirão, que fez as 11 invasões, hoje mantêm quatro.


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