Folha de S. Paulo


Guardas usavam monitoramento por câmeras para 'espiar' mulheres em Araraquara

Doze guardas municipais de Araraquara (273 km de São Paulo) serão afastados da função de monitoramento por câmeras após uma denúncia mostrar que o serviço era utilizado para "espiar" mulheres em closes íntimos e casais namorando.

A denúncia foi feita nesta quarta-feira (11) pela vereadora Gabriela Palombo (PT), na Câmara. Ela classificou as imagens como provas de um "grande desvio de finalidade".

O vídeo chegou a ela, conforme a vereadora, por meio de uma pessoa com acesso à central de monitoramento.

Os vídeos mostram imagens da principal rua de comércio da cidade, a Nove de Julho, num horário de grande movimento. A câmera abandona o plano aberto nas lojas e carros que transitam pela via e passa a focar uma moça de blusa rosa decotada e short jeans.

Veja vídeo

A filmagem segue o percurso que a mulher faz até uma loja, para, e depois continua a acompanhar o deslocamento, agora com ela sendo filmada de costas.

O operador da câmera, em diversos momentos, busca closes do decote e das nádegas da mulher.

Outro vídeo mostra um casal de jovens vestindo uniforme escolar sentado na praça Pedro de Toledo, perto de duas faculdades de Araraquara. A câmera, na maior parte do vídeo que foi divulgado, foca as pernas da jovem, que está deitada no colo do rapaz.

Em nota, a Prefeitura de Araraquara afirmou que "condena esse tipo de conduta" e que vai abrir uma sindicância para apurar a responsabilidade dos servidores, caso seja comprovado que as imagens são da central de monitoramento.

Segundo a prefeitura, uma inspeção foi feita nesta quinta-feira (12) e nenhum material semelhante ao da denúncia foi encontrado.

Os 12 guardas serão incumbidos de outras funções até que a investigação seja concluída e aponte os responsáveis pelas gravações.

Também hoje, o secretário da Segurança local, Eli Schiavi, responsável pela guarda, pediu afastamento do cargo, alegando motivo de saúde.

INQUÉRITO

O promotor de Araraquara Raul de Mello Franco Junior afirmou que teve acesso às imagens informalmente, mas não deverá instaurar inquérito sobre o caso.

Segundo Franco Junior, o suposto desvio funcional de servidores deve ser apurado pela prefeitura. Apenas em caso de omissão da administração municipal, diz o promotor, caberia ao Ministério Público agir.

Franco Junior é responsável por um inquérito civil que investiga as condições de funcionamento da central de monitoramento da Guarda Civil.

Em inspeção em 19 de novembro, o promotor disse que apenas nove das 24 câmeras estavam funcionando, e que não eram mantidas gravações das imagens, que deveriam ser armazenadas por ao menos 30 dias.

"Do jeito que estava, [a central] era um faz de conta", afirmou.

A assessoria de imprensa da prefeitura informou que existem 18 câmeras em funcionamento. Ainda segundo a assessoria, o arquivo das imagens não foi feito em novembro porque o sistema passava por manutenção. Agora, já funciona normalmente, segundo a administração.


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