Folha de S. Paulo


Candidatos a reitor da USP criticam estilo centralizador de Rodas

Dois dos quatro candidatos a reitor da USP (Universidade de São Paulo) criticaram o que chamaram de estilo centralizador do atual reitor, João Grandino Rodas, e prometeram maior "diálogo" com a comunidade acadêmica.

Em debate no campus da USP Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) nesta terça-feira (29), todos os quatro defenderam inclusive a descentralização administrativa da universidade, com maior poder de decisão às unidades de ensino.

Ex-pró-reitor de pesquisa, Marco Antonio Zago disse, porém, que a centralização do reitor não é um problema só de Rodas. "Houve um centralismo, e não só na gestão dele, é algo que vinha se estabelecendo [na reitoria]. A comunidade se afastou da discussão da universidade."

Outro que fez a mesma crítica, o ex-diretor da Escola Politécnica José Roberto Cardoso acha que o problema tem relação com a administração Rodas. "Estamos numa época na USP que nunca imaginávamos que pudesse retornar. O diálogo desapareceu e o medo voltou. Não concordar com as ideias [da reitoria] significa ser inimigo", afirmou.

Edson Silva/Folhapress
Os candidatos a reitor Wanderley Costa, Hélio Nogueira da Cruz, José Roberto Cardoso e Marco Antonio Zago em Ribeirão Preto
Os candidatos a reitor Wanderley Costa, Hélio Nogueira da Cruz, José Roberto Cardoso e Marco Antonio Zago em Ribeirão Preto

A eleição que vai definir os nomes que farão parte da lista tríplice será em dezembro. Disputam ainda o cargo o ex-vice-reitor Hélio da Cruz e o ex-superintendente da reitoria Wanderley da Costa.

O futuro reitor será escolhido pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) a partir da lista tríplice para o quadriênio 2014-17.

Os candidatos citaram como exemplo de centralização a ausência de consulta às unidades sobre a adesão da USP de forma parcial à prova do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e à mudança na gestão do sistema de tecnologia de informação na universidade.

O Enade é uma prova do Ministério da Educação que avalia alunos do ensino superior.

Zago afirma que o conselho universitário --instância máxima de deliberação com representantes das unidades, professores e funcionários-- tem participado pouco da administração da USP. "As decisões são tomadas centralmente. O conselho tem tido pouca influência", diz.

"Nossa postura vai ser de refazer todos os canais de comunicação com estudantes professores, sociedade civil", afirma Cardoso. Ele diz que a falta de diálogo seria um dos motivos que levam os protestos estudantis a promoverem ocupações de unidades da USP, como os dos campi de São Paulo e de São Carlos, invadidos por alunos.

Na manhã desta terça-feira, um protesto de estudantes em São Paulo fechou a entrada da Cidade Universitária, principal campus da capital. Eles pediam eleição direta para reitor, e o fim do convênio com a Polícia Militar, que permite à PM patrulhar os campi.

Apesar de os estudantes do campus de Ribeirão terem realizado um ato pedindo eleições diretas para reitor, não houve protesto no evento desta terça-feira.

Durante o debate, houve poucas perguntas feitas pelos estudantes aos candidatos a reitor.

'DESCENTRALIZAÇÃO'

Cruz e Costa não fizeram críticas diretas ao estilo Rodas de gestão, mas apresentaram como plataformas de suas chapas a defesa da descentralização administrativa.

"Os colegiados precisam deliberar mais", afirmou Cruz, que defendeu ainda que decisões administrativas e acadêmicas possam ser tomadas pelos próprios campi, como as unidades de Ribeirão Preto, São Carlos e Piracicaba.

Costa afirmou que sua candidata a vice Suely Vilela, que foi reitora de 2005 a 2009, adotou medidas de descentralização em sua gestão. "Esse é um tema que é tratado em todas as campanhas eleitorais, e que não é fácil de fazer", disse.

ENADE

Os candidatos à reitoria se mostraram favoráveis, durante o debate de ontem em Ribeirão Preto, à adesão da USP ao Enade.

Em agosto, a USP aderiu de forma parcial à avaliação do governo federal. Após um período experimental, em que especialistas da USP vão avaliar o exame, a universidade decidirá se adere totalmente ao Enade.

Por enquanto, os resultados dos cursos da USP não serão divulgados nos próximos três anos, e os alunos poderão faltar ao exame --para as outras escolas, a participação dos estudantes é obrigatória.

"Vejo com otimismo a transição da USP", afirmou Costa. "Diria que sou a favor do máximo de avaliação [externa]. Mas devemos fazer nossas avaliações também com critérios que defendemos como relevantes", afirmou Cruz.

Zago afirmou que sistemas de avaliação externa, como o Enade, são importantes para a reforma e gestão do ensino na graduação, mas defendeu que a adesão ao exame federal seja debatida com toda a universidade.

"Se há uma área sobre a qual não temos claros indicadores a respeito de nosso desempenho é o nosso ensino de graduação", disse.

Já Cardoso, assim como Zago e Cruz, defendeu que seja criado um sistema de acompanhamento de egressos da graduação, que pode ser computado como forma de avaliação do ensino.

O princípio é que se muitos formados pela USP assumem cargos relevantes no mercado, isso atesta a qualidade dos cursos. Cardoso também defende que a USP participe do processo de elaboração do exame.

A legislação permite que as universidades estaduais decidam se participam do Enade. As privadas e federais são obrigadas a participar do exame.

A USP ficou isolada na resistência à avaliação federal quando a Unicamp, em 2010, decidiu entrar na prova. A outra estadual paulista, a Unesp, já participava do exame.

OUTRO LADO

Procurado pela Folha, Rodas rebateu as acusações de "centralismo" e disse que realizou encontros frequentes com diretores das unidades, chefes de departamentos e estudantes.

Ele ressaltou ainda a realização de quatro encontros de gestão, com cerca de 200 diretores e vice-diretores de unidades e chefes de departamento, para debater a gestão acadêmica e administrativa da USP.

"Causa-me estranheza o fato de dirigentes que fazem parte da atual gestão tecerem esse tipo de comentário apenas neste momento de processo de eleição", afirma Rodas.


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