Folha de S. Paulo


Conheça a Ribeirão Preto "que não existe mais"

A economia do café proporcionou riqueza e desenvolvimento para Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) a partir do final do século 19. Mas bastou a crise desencadeada pela quebra da Bolsa de Nova York e o início da grande depressão global, em 1929, para que símbolos do período --teatros, casarões e igreja-- fossem ao chão nas décadas seguintes.

Um dos casos mais simbólicos foi a demolição, em setembro de 1946, do teatro Carlos Gomes, onde hoje está a praça de mesmo nome. A ele somam-se o palacete Paschoal Innecchi e a estação ferroviária da Companhia Mogiana, entre outros.

Construído pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o teatro foi financiado por grandes fazendeiros da época. A inauguração, em dezembro de 1897, foi com a ópera "O Guarany", de Carlos Gomes.

Na história cultural brasileira, o teatro ganhou importância por ter sido erguido dez anos antes do Municipal de São Paulo, também projetado por Ramos de Azevedo.

A construção seguiu o estilo neoclássico de influência italiana. Segundo os jornais da época, as escadarias eram em mármore Carrara; os candelabros, de bronze alemão; e os vitrais tinham cristais de Murano. O espaço interno, inspirado nos modelos europeus, tinha plateia oval com capacidade para 400 pessoas e cadeiras no estilo Luís 15.

"Porém, a crise o tornou velho e decadente, sendo demolido para dar espaço ao comércio", afirma a pesquisadora Liamar Tuon, professora e coordenadora do curso de história da Faculdade São Luís, de Jaboticabal.

De acordo com o arquiteto Onésimo Lima, o Carlos Gomes foi o edifício mais importante do ciclo cafeeiro. "Após a crise, foi substituído pelo Theatro Pedro 2º, acabado às pressas, com material de segunda", disse.

Até a quebra da Bolsa de Nova York, Ribeirão viu sua fase de glamour com o funcionamento de cassinos como o El Dorado e o Antarctica. Nessa época, surgiu o palacete do imigrante italiano e industrial Paschoal Innecchi, na esquina das ruas Duque de Caxias e Barão do Amazonas, onde hoje está o Itaú.

DISPUTA

A construção eclética, formada por fragmentos de estilos arquitetônicos diferentes, teria sido uma resposta de Innecchi à elite ribeirão-pretana por não ter sido aceito nos eventos sociais.

Suas festas competiam com eventos da Recra, que ficava ao lado, numa tentativa de demonstrar poder. Foi demolido após sua morte, em 1961.

Para Lima, o que persiste da época é a falta de preservação da história de Ribeirão.

Editoria de Arte/Folhapress

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