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Pastas de Doria e Alckmin batem boca com gestão Temer sobre febre amarela

Rivaldo Gomes/Folhapress
Pessoas fazem fila para receber a vacina contra a febre amarela em UBS da zona sul de São Paulo
Pessoas fazem fila para receber a vacina contra a febre amarela em UBS da zona sul de São Paulo

Em meio ao aumento de casos e a filas para vacinação, o avanço da febre amarela em São Paulo deu início a uma troca de acusações entre a gestão Michel Temer (PMDB), o governo do Estado e a prefeitura da capital paulista.

Em entrevista à Folha, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, chamou de "lamentável" declaração do secretário municipal da Saúde de João Doria (PSDB), Wilson Pollara, e disse que a cidade só não recebeu mais doses da imunização porque não pediu.

Febre Amarela

Na terça (23), Pollara havia afirmado que o desafio da imunização na capital "é justamente a disponibilização de vacina pelo ministério".

"Se tivéssemos todas as vacinas disponíveis nesse exato momento, em dez dias só teríamos condições de vacinar a população inteira, disse.

Barros rebateu a declaração do secretário e disse que caberia a Pollara ter pedido mais doses por meio de solicitação ao governo do Estado. "Não tem [vacina disponível para a cidade toda agora] porque ele não pediu", afirmou.

"Ele não pediu porque ele não tem razão para pedir. Ele que converse com o secretário [estadual] David Uip e, se o secretário David Uip pedir para vacinar, nós poderemos conceder. Esse tipo de declaração é lamentável."

Pollara não quis comentar a fala de Barros.

O ministro abriu ainda uma crise com a gestão Alckmin ao afirmar que o fracionamento da vacina contra a febre amarela só não começou antes porque o governo paulista não pediu.

A campanha com doses fracionadas começou na quinta (25) no Rio e São Paulo, com confusão e filas. A meta é imunizar 20 milhões de pessoas em 77 municípios dos dois Estados, além da Bahia. A medida faz parte da estratégia de, diante de um estoque limitado, bloquear rapidamente o avanço do vírus, no momento em que ele ronda as duas maiores cidades do país.

A capital paulista, por ora, não tem nenhum caso humano confirmado, mas já foram encontrados macacos com vírus. O primeiro animal foi achado em outubro no Horto Florestal (zona norte).

Editoria de arte/Folhapress

'NÃO SOLICITOU'

Questionado por que só tomou a decisão de fracionar a vacina no início de janeiro, mais de um mês após esse episódio, Barros disse que "a vigilância do Estado de São Paulo não solicitou". "Se tivesse nos solicitado, teríamos feito. Há um protocolo e uma técnica que devem ser seguidos e, sob esse protocolo, toda demanda que chega ao ministério é atendida", afirmou.

A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, Regiane de Paula, negou a informação e disse que, no primeiro semestre de 2017, o Estado já havia pedido vacinas para imunizar a população de todas as cidades até 2018 com doses plenas, e não fracionadas e que o ministério respondeu que iria "avaliar" o pedido.

Segundo ela, quando ocorreu a morte do macaco no Horto, ela trabalhava com a informação de que havia quantas doses plenas fossem necessárias.

Ainda de acordo com a diretora, neste momento, o primeiro lote de seringas para fracionamento só chegou a São Paulo em 12 de janeiro. "Mesmo que a capital tivesse hoje condições de aplicar mais doses que o previsto na campanha, neste momento o Ministério da Saúde não dispõe de seringas específicas para o fracionamento."

Em resposta à diretora, o ministério afirmou que "há um trabalho conjunto" para estender a vacinação a outras regiões de São Paulo. "Neste primeiro momento, estão sendo priorizados os corredores ecológicos próximos de locais onde houve casos de febre amarela em humanos e macacos ou aquelas regiões de potencial risco de circulação."

Em relação às seringas, disse que foram encaminhadas a partir de planejamento em dezembro e que há estoque para atender eventuais solicitações de ampliação imediata de vacinação. "Quantitativos de seringas para novas etapas da imunização ainda serão discutidos."


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