Folha de S. Paulo


Junior Torres de Castro (1933-2018)

Mortes: O primeiro homem a ter um satélite para chamar de seu

Reprodução/Facebook
Junior Torres de Castro (1933-2018)
Junior Torres de Castro (1933-2018)

Em janeiro de 1990, o foguete Ariane 40 H10 foi lançado do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, e levou de morcego um paralelepípedo de 12 kg. Na base, Junior Torres de Castro pulava com os dedos formando o V de vitória. Naquele momento, ele se tornava a primeira pessoa física a colocar um satélite próprio em órbita.

A história começou na época em que era operador de telégrafo dos Correios em Botucatu. Gostou de comunicar-se à distância e, por hobby, evoluiu para o radiamadorismo.

Em 1957, sua antena captou os sinais do soviético Sputnik, satélite artificial pioneiro. Maravilhou-se com o bip-bip, a telemetria usada para indicar a temperatura do equipamento, mas matutou: não seria possível transmitir a linguagem humana do espaço?

Alimentava sua obsessão com o dinheiro que ganhou perfurando poços artesianos no Estado de SP. Ia a congressos científicos no mundo todo e construiu um protótipo com materiais comprados na rua Santa Ifigênia, em São Paulo.

Do amplo catálogo do centro comercial, não constava nada que suportasse a pressão atmosférica de um lançamento espacial. Logo, o primeiro modelo criado por Junior se restringiu a demonstrações na superfície terrestre.

Os cientistas que conheceu ficaram impressionados com sua engenhosidade. Colocaram-no em contato com indústrias aeroespaciais, e Junior conseguiu o que precisava.

Dove-OSCAR 17 operou até sua bateria acabar, em 1998. Enviou 6.000 mensagens de paz à Terra, lidas por crianças.

Morreu no dia 17, aos 85, por falência de múltiplos órgãos. Deixa filhos e netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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