Folha de S. Paulo


Sem grades, parques lineares de SP ficam sem alerta sobre febre amarela

Rivaldo Gomes/Folhapress
Aviso sobre 'prevenção à saúde' no parque Juliana de Carvalho Torres, em Raposo Tavares (zona oeste)
Aviso sobre 'prevenção à saúde' no parque Juliana de Carvalho Torres, em Raposo Tavares (zona oeste)

Parques lineares da Prefeitura de São Paulo, da gestão João Doria (PSDB), que não devem ser visitados por causa dos riscos de febre amarela não têm avisos sobre a doença. Em alguns deles, macacos foram encontrados mortos nas últimas semanas.

Nesta quinta (28), a prefeitura fechou mais seis parques nas zonas sul e oeste e passou a recomendar que a população evite mais quatro lineares. No total, já são 26 parques com restrição de visita.

Abertos e sem grades, os parques lineares não estão cercados. Em alguns deles, há cartazes pequenos, do tamanho de uma folha de papel sulfite, com uma mensagem genérica, sem alertar sobre a febre amarela. "Aviso: recomendamos a não permanência neste parque por motivos de preservação à saúde", diz um deles. Muitos estão em cantos com pouca circulação, pouco visíveis.

No parque linear Feitiço da Vila, no Capão Redondo (zona sul), não há cartazes espalhados, apenas um grudado discretamente em um portão. Na rua em frente ao parque, porém, há uma faixa grande e em destaque, propagando um programa de asfalto do município.

"Nem sabia que este parque tem riscos. Ninguém da prefeitura veio conversar conosco e não há sinalização clara. Nem tomei a vacina ainda, estou preocupada", diz a aposentada Maria Pereira, 66, que mora nos prédios em frente ao parque.

No parque linear Sapé, no Butantã (zona oeste), não há placas indicando o risco de febre amarela no local e moradores dizem que não foram avisados sobre a restrição.

O comerciante Juliano Alves Dias de Oliveira, 32, reclamou da falta de avisos. "Não fazia ideia de que esse risco estivesse tão perto de mim", afirmou.

Rivaldo Gomes/Folhapress
O analista de tecnologia da informação Leonardo Mariconde, 41, no parque Juliana de Carvalho Torres
O analista de tecnologia da informação Leonardo Mariconde, 41, no parque Juliana de Carvalho Torres

ENTERRO DE MACACO

No parque linear Juliana de Carvalho Torres, na Cohab Raposo Tavares (zona oeste), há cartazes discretamente colocados nas paredes da entrada ao local, em duas escadarias e em uma portaria mais afastada. As folhas de sulfite não têm impedido crianças e adultos, a maioria sem ter sido vacinada, de frequentar o local.

"Se a prefeitura não isolar com uma fita, o povo vai continuar a frequentar o parque normalmente. Estamos todos bastante assustados aqui", diz a cozinheira Maria Aparecida Vieira, 42, que mora na Cohab.

No dia 24 de dezembro, véspera de Natal, um macaco morto foi encontrado no parque, segundo conta o analista de tecnologia da informação Leonardo Mariconde, 41, que mora perto. "Tentamos avisar à prefeitura de várias maneiras, pelo 156 e na Zoonoses. Mas ninguém conseguiu ser atendido. Sem saber o que fazer, decidimos enterrar o bicho."

Mariconde também reclama da falta de sinalização mais clara no parque.

"As placas que existem estão escondidas, nem dá para ver direito. É um risco muito grande que nós, moradores, estamos correndo", afirma o analista.

OUTRO LADO

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, sob gestão João Doria (PSDB), afirma que "as placas oficiais estão sendo produzidas e em breve serão fixadas nos locais".

A pasta diz, ainda, que pede que não sejam retirados os avisos em frente aos parques quanto ao fechamento por prevenção à febre amarela, mas não explica porque os cartazes não alertam sobre a doença.

A prefeitura diz também que os parques lineares possuem sinalização em "pontos estratégicos" para que os frequentadores compreendam a recomendação de não permanência no local. A população, afirma, está sendo comunicada não só por meio da sinalização em frente às áreas, mas também por redes sociais, pelo site da secretaria e por veículos de imprensa há dois dias.

A gestão Doria afirma ainda que as administrações dos locais comunicam pessoalmente àqueles que procuram os parques, conscientizam quanto à vacinação e orientam com relação a medida preventiva de fechamento. Por fim, a secretaria recomenda que, se frequentadores encontrarem macacos mortos, devem entrar em contato com a Guarda Civil Ambiental, pelo telefone 153.


Endereço da página:

Links no texto: