Folha de S. Paulo


Zuleika Sucupira Kenworthy (1912-2017)

Mortes: Corajosa e persistente, foi a 1ª promotora de SP

"Mulher? O que ela veio fazer aqui". Era com essas palavras que Zuleika Sucupira Kenworthy descrevia a reação das pessoas quando chegou em Capivari, no interior paulista, na década de 1940.

Escolhida para atuar como promotora interina na cidade, contou, em entrevista dada mais de seis décadas depois, que os homens evitavam falar com ela no início. Eram proibidos pelas mães e mulheres.

Essa era uma das histórias contadas pela primeira mulher promotora de São Paulo, do Brasil e da América Latina.

Filha de ingleses, nasceu em Jundiaí e se mudou ainda criança para Sorocaba, onde a família iniciou um império têxtil. Menina, Zuleika se inspirava nos filmes de júri e não se conformava com as reviravoltas que os advogados sempre causavam no final.

Já na capital paulista, foi voluntária na Revolução de 1932 fazendo kits de primeiros socorros aos soldados. Lembrava de ter encontrado, anos depois, granadas no jardim de casa, na Aclimação.

Formada na USP, prestou três concursos até ingressar no Ministério Público e atuou a maior parte da carreira na Curadoria de Menores. Aposentou-se nos anos 1970, após ser nomeada procuradora.

Alegre, exigente e de formação culta, passou então a se dedicar à regência de corais e à leitura. Falava sete idiomas e tinha uma biblioteca de 4.000 livros, diz orgulhosa a sobrinha Mônica. Também se tornou escoteira depois dos 90 anos -seu segundo maior sonho, atrás apenas do de se tornar promotora.

Morreu no dia 13, aos 105 anos, devido à falência dos órgãos. Deixa sobrinhos, sobrinhos-netos e amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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