Folha de S. Paulo


Ricardo Corrêa da Silva (1957-2017)

Mortes: Fofão, cabeleireiro desbundante da Augusta

Arquivo Pessoal
Ricardo Corrêa da Silva (1957-2017)
Ricardo Corrêa da Silva (1957-2017)

Entre buzinas estridentes e passos apressados, todos são desconhecidos na famosa rua Augusta, no centro da São Paulo. Ou quase todos.

Ricardo Corrêa da Silva era um dos que resistiam a essa regra. As pessoas podiam não saber seu verdadeiro nome ou de onde ele veio, mas o tornaram uma espécie de patrimônio do local, onde pedia esmolas ou distribuía panfletos de peças de teatro.

A maquiagem forte sobre o rosto preenchido com silicone –nitidamente sem qualquer acompanhamento médico– lhe renderam o apelido de Fofão, em referência ao apresentador de programas infantis dos anos 1980 e 1990. Já as reações inesperadas, lhe deram a fama de violento.

Nascido em Araraquara, no interior paulista, deixou a casa dos pais ainda na adolescência por conta de uma relação conturbada. Parte por sua homossexualidade, não aceita pelos pais na época, parte pela esquizofrenia diagnosticada tardiamente, especula o irmão Marcelo.

"Ele era inteligente, sensível, um desbunde. Essa era a palavra que a gente usava na época: desbundante", afirma.

Começou a carreira de cabeleireiro no interior, trabalhando em salões renomados de São Paulo. Também aprendeu inglês e francês, sonhando em um dia conhecer Paris. Há cerca de duas décadas, no entanto, perdeu tudo. Na Augusta, fez teatro de rua, trabalhou em boates. Distante da família, chegou a se envolver em brigas e teve ao menos uma passagem pela polícia.

Estava em uma clínica psiquiátrica, onde teve uma parada cardíaca na última sexta (15), quando morreu aos 60 anos. Deixa três irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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