Quando Henri Burin des Roziers serviu no Exército francês, a Argélia ainda era colônia. Lotado no país magrebino, uma de suas atribuições era defender latifúndios de fazendeiros europeus das invasões de camponeses.
O desgosto com a função condicionou sua trajetória: advogado da Comissão Pastoral da Terra, virou nome de acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Curionópolis (PA), zona de conflito agrário.
Após a experiência militar, estudou direito em Cambridge, na Inglaterra, no começo dos anos 60. Pouco depois, foi ordenado frade dominicano e tornou-se Frei Henri.
Ainda na França, o religioso atuou junto à classe operária. No final de 1978, veio ao Brasil e inicialmente instalou-se na região do Bico do Papagaio, no atual Tocantins.
Passou a advogar para os trabalhadores rurais. Além de questões agrárias, ocupou-se do combate ao trabalho escravo e à violência no campo.
Em 2007, dois anos depois do assassinato da religiosa Dorothy Stang, a polícia paraense foi informada de que pistoleiros haviam sido contratados para matar Frei Henri. O frade, que à época vivia em Xinguara (PA), passou a ser escoltado 24 horas por dia.
Sua atuação lhe rendeu a Legião de Honra da França em 1994. "Foi um fiel seguidor de Jesus, alguém que deu a vida pelos oprimidos", diz Frei Betto, seu amigo.
Devido à saúde, voltou a Paris em 2013. Passou seus últimos anos no convento Saint-Jacques, berço dos jacobinos.
Vítima de AVC e miopatia congênita, seu quadro vinha se agravando. Morreu neste domingo (26), aos 87 anos.
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