Folha de S. Paulo


Entenda o caso do ator negro agredido em terminal no centro de São Paulo

Na madrugada do último dia 15, feriado de quarta-feira, o ator Diogo Cintra, 24, foi atacado por criminosos no terminal Parque Dom Pedro 2º, no centro. Arrastado para fora, levou pauladas e mordidas de cachorros.

Câmeras de segurança flagraram a omissão de vigilantes da estação, que se negaram a ajudá-lo e foram acusados por ele de racismo.

O caso ganhou novos contornos com um novo depoimento de um jovem que acusou Diogo de ter furtado o celular dele naquela madrugada. Ele afirmou também que gritou "pega ladrão" pela rua antes do grupo, que ele diz desconhecer, perseguir e agredir o ator.

Abaixo, entenda o que se sabe e o que ainda não foi esclarecido no caso.

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O que as imagens das câmaras de segurança mostram?
Diogo foge de um homem que corre com um pedaço de madeira na mão. Em seguida, é levado pelo braço pelos agressores para fora do terminal, enquanto os seguranças olham passivos. Dois cachorros seguem o grupo. Alguns usam capuzes, mas ao menos dois podem ter seus rostos identificados. Um tempo depois, Diogo aparece cambaleante, com um pé descalço, entrando em um ônibus. Ele então é colocado em uma cadeira de rodas pelos seguranças.

Vídeo ator negro

O que motivou as agressões ao ator?
Diogo diz que foi perseguido após reagir a uma tentativa de assalto nas proximidades e correr para dentro do terminal. A polícia, porém, investiga se ele teria se desentendido com algum conhecido da região.

Por que os funcionários não intervieram?
De acordo com a vítima, eles o confundiram com um ladrão pelo fato de ser negro. A SPTrans ainda não divulgou a versão dos funcionários, que foram afastados até a conclusão do inquérito policial. Segundo testemunhas, eles teriam ficado com medo por conhecerem os agressores e temerem represálias.

O que aconteceu depois que o ator foi arrastado para fora do terminal?
Ele disse ter sido espancado por um grupo de seis homens, com pedaços de pau e pedras, e ter sido mordido por cachorros. As agressões só pararam quando uma moça que fazia parte do grupo pediu e afastou os cães. No dia seguinte, ele postou fotos que mostram seu rosto todo machucado.

Reprodução
Vídeo indica seguranças omissos em SP diante de agressões a ator negro
Diante dos seguranças (de colete amarelo), Diogo é arrastado por agressores (em primeiro plano)

Quem são os agressores?
Como o espancamento ocorreu fora do terminal, longe do alcance das câmeras, não é possível dizer se foram os mesmos que o arrastaram da estação. Segundo a vítima, foram os assaltantes que tentaram levar seu celular. A polícia apura se foram criminosos ligados ao tráfico de drogas na região.

Eles foram identificados?
Ainda não. A polícia diz ter ouvido de frequentadores do entorno que eles não foram mais vistos desde aquela madrugada. Em depoimento, Diogo olhou álbum de fotos de suspeitos com passagem pela polícia, mas não reconheceu nenhum deles.

O ator disse que naquele dia estava voltando para casa, no Capão Redondo, após uma festa. Do terminal Parque Dom Pedro partem ônibus para a região?
Não. Ônibus com destino ao terminal Capelinha, no Capão Redondo (zona sul), partem do terminal Bandeira, mais próximo de onde o ator disse ter saído, na rua Augusta. Para chegar ao bairro a partir do Parque Dom Pedro, é preciso pegar um ônibus até o terminal Santo Amaro e fazer baldeação. Essa informação, porém, é considerada irrelevante para o inquérito policial.

Um homem apresentou à polícia uma nova versão sobre o que teria motivado as agressões sofridas por Diogo. O que ele disse?
O rapaz prestou um depoimento formal à delegada Gabriela Carvalho de Sousa Pereira no qual diz que teve seu celular furtado pelo ator naquela madrugada. Afirmou também que gritou "pega ladrão" pela rua antes de um grupo, que ele diz desconhecer, perseguir e agredir Diogo. A suposta vítima do furto procurou a polícia apenas no último dia 23, mais de uma semana depois do episódio.

Como o suposto furto do celular teria ocorrido?
Pela versão do rapaz, que mora e trabalha na região da rua 25 de Março, ele chegava em casa naquela madrugada quando Diogo, ao vê-lo embriagado, ofereceu ajuda. Os dois, segundo ele, acabaram se beijando na porta da casa da suposta vítima. Em seguida, ele diz ter percebido Diogo mexendo no bolso de seu casaco –de onde teria retirado um celular e saído correndo em direção ao terminal.

Quais será o próximo passo tomado pela investigação a partir da nova denúncia?
A nova versão levará a delegada a colher novo depoimento do ator e talvez a promover uma acareação. Ela ainda é tratada com cuidado pela polícia. Diogo, que se diz vítima, pode responder criminalmente se tiver mentido.


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